Ontem o vinho derramado
hoje mancha minha camisa
o frio vem em partículas
fragmentar meu queixo
se perguntas a família,
dirão que fui viajar
-uma lembrança vaga
é habito
acreditarem que absolutamente
não existe
o que não se comenta
à mesa do jantar
do desvio incomodo
que é a vida bifurcada a duas
vias de acesso cego
contra o direito de me fazerem
calabouço
ontem vela acesa
hoje porão vazio
as taças em cálidos cacos
de inteligência doida
varrida
para fora
no pó da pá o meu suplício
dentro da sacola amarrada do lixo
me enviam sem retorno
para o Japão
onde
minhas desigualdades mórbidas
acordam de um pesadelo
dentro de outro
dentro de outro
dentro de outro...
21 novembro 2009
19 outubro 2009
inverno
o riso no rosto
é um risco
de rastros
sanguineos
pulsa
e goteja
possibilidades
o homem de bigodes
de chapéu coco que
caminha só sobre a neve
dos lábios secos
pende um cigarro apagado
nos bigodes
pequenos
flocos de
neve
acumulados
ele talvez volte
a tempo de rever
as begônias
florirem
nesta hora
morta
entreaberta
de eloquências
e estreitas recorrências
deseja apenas terminar o assunto no qual
ninguém está
prestando atenção
mas dizem que
seu senso de humor é sensacional!
só por uma noite
ou duas
as esquinas de l´Avenie
cobertas de branco
cruzam
destinos em distintos
ipês amarelos
e
a sua
saia de cores
hexâmeras
flutua
entre flocos de luz nossos dedos
entrecruzados
os meus ágeis buscam
a ponta pífia
do seu malboro light
e a fumaça sobe
bonita
em espirais azuis
pelas minhas narinas
e sinto deliciosa
brisa glaciam invadir
minhas coxas
flutuar em meus óculos de
órbitas saltadas
a espreita: a espera morta e estreita
parada.
o vento frio que vem depois da chuva
bater em meus cabelos de madrugada
nessa hora que não é
do tempo
e não somos nada
apenas poeria na estrada
da ampla solidão do cosmo
um hino de estrela
fugiria tênue
da minha boca
direto
pra a umidade dos teus olhos
luminosos
como um fatal
toque de parede fria
meu beijo
gelado nos teus dedos
de faca
atravessaria o avesso do pão
em fatias
mornas
de café e de neve
que
cai
em
Paris
o pulo do gato é leve
o leva para o alto
do muro
minhas pupilas dilatam
no escuro o olho do gato brilha
fagulhas de fogo fátuo
inteligência arisca e ao mesmo tempo
em que todos arriscam
e se divertem
eu, ex-vazio,
de conversações anônimas
e alpargatas velhas
assuntos empoeirados
que se desencadeiam
em meio a
quantas noites no centro da Avenida Batavo
onde todas as direções são curvas
re-conexas
eu como o homem de bigodes que sou
que não sabe mais partilhar
pequenas alegrias em saquinhos de batata chips
e mãos
engorduradas
chupo meus próprios dedos
minhas portas trancadas
de fora para dentro
estabelecem
além dos limites
de minhas pernas tortas
o muro que
barra minha
consciência
e
displicente
o músculo
exausto de alegria
soergue-se aos flocos
em branco ópio
de papel
até que as lágrimas congelem na garganta
e a última gota de chuva
caia no cinzeiro
sorrio pensando em como é quieto
entre a porta e meus sapatos
senil e obsequioso eau de parfum
eu e meus parafusos plásticos
suportamos apenas
desnecessidades
mórbidas
vistas à janela o
ríspido e amplo
ocenao afastando-se
do coração do humano
eu caio
em pingos
frios
no vislumbre
luminoso
da pétala
de qualquer
rosa
é um risco
de rastros
sanguineos
pulsa
e goteja
possibilidades
o homem de bigodes
de chapéu coco que
caminha só sobre a neve
dos lábios secos
pende um cigarro apagado
nos bigodes
pequenos
flocos de
neve
acumulados
ele talvez volte
a tempo de rever
as begônias
florirem
nesta hora
morta
entreaberta
de eloquências
e estreitas recorrências
deseja apenas terminar o assunto no qual
ninguém está
prestando atenção
mas dizem que
seu senso de humor é sensacional!
só por uma noite
ou duas
as esquinas de l´Avenie
cobertas de branco
cruzam
destinos em distintos
ipês amarelos
e
a sua
saia de cores
hexâmeras
flutua
entre flocos de luz nossos dedos
entrecruzados
os meus ágeis buscam
a ponta pífia
do seu malboro light
e a fumaça sobe
bonita
em espirais azuis
pelas minhas narinas
e sinto deliciosa
brisa glaciam invadir
minhas coxas
flutuar em meus óculos de
órbitas saltadas
a espreita: a espera morta e estreita
parada.
o vento frio que vem depois da chuva
bater em meus cabelos de madrugada
nessa hora que não é
do tempo
e não somos nada
apenas poeria na estrada
da ampla solidão do cosmo
um hino de estrela
fugiria tênue
da minha boca
direto
pra a umidade dos teus olhos
luminosos
como um fatal
toque de parede fria
meu beijo
gelado nos teus dedos
de faca
atravessaria o avesso do pão
em fatias
mornas
de café e de neve
que
cai
em
Paris
o pulo do gato é leve
o leva para o alto
do muro
minhas pupilas dilatam
no escuro o olho do gato brilha
fagulhas de fogo fátuo
inteligência arisca e ao mesmo tempo
em que todos arriscam
e se divertem
eu, ex-vazio,
de conversações anônimas
e alpargatas velhas
assuntos empoeirados
que se desencadeiam
em meio a
quantas noites no centro da Avenida Batavo
onde todas as direções são curvas
re-conexas
eu como o homem de bigodes que sou
que não sabe mais partilhar
pequenas alegrias em saquinhos de batata chips
e mãos
engorduradas
chupo meus próprios dedos
minhas portas trancadas
de fora para dentro
estabelecem
além dos limites
de minhas pernas tortas
o muro que
barra minha
consciência
e
displicente
o músculo
exausto de alegria
soergue-se aos flocos
em branco ópio
de papel
até que as lágrimas congelem na garganta
e a última gota de chuva
caia no cinzeiro
sorrio pensando em como é quieto
entre a porta e meus sapatos
senil e obsequioso eau de parfum
eu e meus parafusos plásticos
suportamos apenas
desnecessidades
mórbidas
vistas à janela o
ríspido e amplo
ocenao afastando-se
do coração do humano
eu caio
em pingos
frios
no vislumbre
luminoso
da pétala
de qualquer
rosa
18 setembro 2009
Apocalipse de Pedro
pedras rolam sobre cascas humanas
aniquiladas
cabeças
passam voando
enquanto
planam no céu
o sol
e a nuvem
dissolvem
histórias compridas feito tumbas
se perdem
no deserto
de poeira e sombra elevam-se altas feito torres
de tosse
entre ruas
e
pulmões de vidro
objetos se soltam
voam com as cinzas
da tarde
a paisagem
despedaça
-se
por acaso
nas cores
em colapsos
multi-violetas
a poeira baixa
um tom de voz
um segundo
antes
eu não era mais quem sabe
quase isso
ou ao contrário
as pedras
apenas
planam
no desfiladeiro
em grânulos
esfiapados
de terra
aniquiladas
cabeças
passam voando
enquanto
planam no céu
o sol
e a nuvem
dissolvem
histórias compridas feito tumbas
se perdem
no deserto
de poeira e sombra elevam-se altas feito torres
de tosse
entre ruas
e
pulmões de vidro
objetos se soltam
voam com as cinzas
da tarde
a paisagem
despedaça
-se
por acaso
nas cores
em colapsos
multi-violetas
a poeira baixa
um tom de voz
um segundo
antes
eu não era mais quem sabe
quase isso
ou ao contrário
as pedras
apenas
planam
no desfiladeiro
em grânulos
esfiapados
de terra
09 setembro 2009
Virgínia
Virgínia tem olhos pretos
de cair dentro bem
maiores que a barriga
comprida e branca caminha
entre labirintos telepáticos,
suprasensíveis,
carrega orgulhosos óculos de nascença
como se não se equilibrasse
bem nas pernas o que lhe confere
uma eterna
curva nos ombros
vai e volta sem saber
o que estava fazendo
ia embora
sem ter conhecido ninguém de novo
bêbada
de café
caminha entre
folhas secas
sem sapatos
porque lhe agrada o cheiro
do que secou
sob as plantas
dos seus pés
às vezes se apaixona
em segredo
pelo recepcionista
cheiram juntos
o pó
das bibliotecas
enquanto ela permance
absorta na
xícara
de chá
vazia
observa o borrão da chuva
na janela sopra
lá fora
a dor mais aguda
pra quem sabe o veludo dessas pétalas
que esmaga com dedos
em susto
percebe
um gato
não consegue ler
desde criança
andava
metida
com gatos
por isso seus gestos
jamais sorriam
ou algo que soasse
macio
suas palavras
arrancam tosses
demora demais
nos olhos
dos outros
e suas
estranhezas de hábito
como tragar solidões
solicitudes
expande
como o vidro
se inflava quente
e depois
recolhe-se brusca
crisálida
se acaso Virgínia ousasse olhar
seus verdadeiros olhos
quem suportaria
tamanha dor
disfarçada em cílios?
a vida frágil do corpo
sustentada em seus próprios
escombros num vendaval de domingo
ia
esvaindo-se
em afetos
que
apesar de tudo
nos momentos
-realmente-
tristes
nos intervalos lúgubres
dos metrôs eram válidos
Virgínia
mantinha seus
olhos
quietos e
fixos
em um olhar
de gato
banhando-se
em jornal e fumaça
de cair dentro bem
maiores que a barriga
comprida e branca caminha
entre labirintos telepáticos,
suprasensíveis,
carrega orgulhosos óculos de nascença
como se não se equilibrasse
bem nas pernas o que lhe confere
uma eterna
curva nos ombros
vai e volta sem saber
o que estava fazendo
ia embora
sem ter conhecido ninguém de novo
bêbada
de café
caminha entre
folhas secas
sem sapatos
porque lhe agrada o cheiro
do que secou
sob as plantas
dos seus pés
às vezes se apaixona
em segredo
pelo recepcionista
cheiram juntos
o pó
das bibliotecas
enquanto ela permance
absorta na
xícara
de chá
vazia
observa o borrão da chuva
na janela sopra
lá fora
a dor mais aguda
pra quem sabe o veludo dessas pétalas
que esmaga com dedos
em susto
percebe
um gato
não consegue ler
desde criança
andava
metida
com gatos
por isso seus gestos
jamais sorriam
ou algo que soasse
macio
suas palavras
arrancam tosses
demora demais
nos olhos
dos outros
e suas
estranhezas de hábito
como tragar solidões
solicitudes
expande
como o vidro
se inflava quente
e depois
recolhe-se brusca
crisálida
se acaso Virgínia ousasse olhar
seus verdadeiros olhos
quem suportaria
tamanha dor
disfarçada em cílios?
a vida frágil do corpo
sustentada em seus próprios
escombros num vendaval de domingo
ia
esvaindo-se
em afetos
que
apesar de tudo
nos momentos
-realmente-
tristes
nos intervalos lúgubres
dos metrôs eram válidos
Virgínia
mantinha seus
olhos
quietos e
fixos
em um olhar
de gato
banhando-se
em jornal e fumaça
03 setembro 2009
lanche na cantina
trago cigarros
no estojo
quadrado canetinhas bic
rabisco em guardanapos
sujos
como o que ia dizendo
e esqueci
de repente
a pia
aberta
trago livros
e não leio
trago pedras
e figurinhas
de crack
masco chicletes católicos
estouro bolhas
retóricas
que grudam nos meus cabelos
universitários e virgens
misturam-se ao pão
com azeitonas
e sou a sede
do vaso
entre barras
de ouro branco
pra quando
a garganta secar
bombom seria
beber a água na cantina
com filtro
solar
no estojo
quadrado canetinhas bic
rabisco em guardanapos
sujos
como o que ia dizendo
e esqueci
de repente
a pia
aberta
trago livros
e não leio
trago pedras
e figurinhas
de crack
masco chicletes católicos
estouro bolhas
retóricas
que grudam nos meus cabelos
universitários e virgens
misturam-se ao pão
com azeitonas
e sou a sede
do vaso
entre barras
de ouro branco
pra quando
a garganta secar
bombom seria
beber a água na cantina
com filtro
solar
O suicidio da Virgem del valle
Acode essa bolhinha no ar
seu destino é subir
soprar
dissolver-se
quem sabe
na encosta tão íngrime
e abissal
seu coração
canta
no topo da
solidão
onde habita
o chacal
e não há pecado
apenas
venta
seus braços
abertos abençoam
as bolhas
explodem
ao sol e
voam
ela
rompe
o frio
da nuvem
densa
com
o uivo
sagrado
da fêmea
intocada
sua coroa de flores
despenca
primeiro
seu destino é subir
soprar
dissolver-se
quem sabe
na encosta tão íngrime
e abissal
seu coração
canta
no topo da
solidão
onde habita
o chacal
e não há pecado
apenas
venta
seus braços
abertos abençoam
as bolhas
explodem
ao sol e
voam
ela
rompe
o frio
da nuvem
densa
com
o uivo
sagrado
da fêmea
intocada
sua coroa de flores
despenca
primeiro
20 agosto 2009
Bêbadas
Destilados
estão
os que me
revogam
dirão
acabando
com a minha
cabeça pensa
mais que passa
pesada
por isso
eu assobio
sobre nada
estão
os que me
revogam
dirão
acabando
com a minha
cabeça pensa
mais que passa
pesada
por isso
eu assobio
sobre nada
campestre
Uma abelha voa em direção
ao azul do olho de Suely
a estrada leva
seu vestido leve
para outras ramagens
Imagem lívida: os
cabelos vermelhos
de Lívia
esparramados
na neve
Susana amassa a maçã
entre os dentes
pálida
aperta a polpa
de
tomate
com os dedos
resiste
trêmula a
faca afiada
quer cortar
a pele do
kiwi
e seus
pelos para
verde-dentro
sementes pretas
lembram um
desenho
maia
Mariana
Atirou-se ao mar
De Iemanjá
E as pérolas
do seu colar
Enfeitam agora
outra Ana
ao azul do olho de Suely
a estrada leva
seu vestido leve
para outras ramagens
Imagem lívida: os
cabelos vermelhos
de Lívia
esparramados
na neve
Susana amassa a maçã
entre os dentes
pálida
aperta a polpa
de
tomate
com os dedos
resiste
trêmula a
faca afiada
quer cortar
a pele do
kiwi
e seus
pelos para
verde-dentro
sementes pretas
lembram um
desenho
maia
Mariana
Atirou-se ao mar
De Iemanjá
E as pérolas
do seu colar
Enfeitam agora
outra Ana
19 agosto 2009
Casa de boneca
Que triste
sempre
esperar
por ele
acordada os
pés
vão sozinhos
para dentro
do cheiro da boca
dele traz
potenciais
delicias
abertas
as janelas
observam
Cintia apertar
o vidro
de xampu
entre as pernas
a espuma tem
cremosidades
espessas...
o que move aos domingos
as horas mortas no relógio:
expectativa
de um roçar que seja
de peles
um beijo
verdadeiramente
de língua
sempre
esperar
por ele
acordada os
pés
vão sozinhos
para dentro
do cheiro da boca
dele traz
potenciais
delicias
abertas
as janelas
observam
Cintia apertar
o vidro
de xampu
entre as pernas
a espuma tem
cremosidades
espessas...
o que move aos domingos
as horas mortas no relógio:
expectativa
de um roçar que seja
de peles
um beijo
verdadeiramente
de língua
17 agosto 2009
Dez de Copas
fazem planos
muralhas que
servem
à Coroa
de outros
diamantes brutos
encrustados
nos músculos
das
mãos que
disparam
EM direção
ao cerne do
capital vital
da tua veia
vai
do cérebro
ao coração
e então
pára...
muralhas que
servem
à Coroa
de outros
diamantes brutos
encrustados
nos músculos
das
mãos que
disparam
EM direção
ao cerne do
capital vital
da tua veia
vai
do cérebro
ao coração
e então
pára...
devastagem
dentro das minhas pupilas
longe e ao redor de tudo
observo
poeira e fogo
o futuro
ao longe o cheiro de guerra
traz
prováveis
invasores
ao pôr-do-sol
contra as nuvens
bem alto
o abutre
figura nobre
farejando
o vento
leva
o aroma
ácido
das tripas
que os alimentam
longe e ao redor de tudo
observo
poeira e fogo
o futuro
ao longe o cheiro de guerra
traz
prováveis
invasores
ao pôr-do-sol
contra as nuvens
bem alto
o abutre
figura nobre
farejando
o vento
leva
o aroma
ácido
das tripas
que os alimentam
Infanta Joaquina
Quando crescer
serei contigo
árvore
para
encaixotar fatos
nos olhos
deixar estar
certas cousas
como fiapos
de carne
nos dentes
doces
como esperar
teu beijo
na boca
de bala
molhada
meu secreto-íntimo
era de te pegar no colo
cheirar teus cabelos
úmidos
enquanto
fala de
Belle&Sebastian...
serei contigo
árvore
para
encaixotar fatos
nos olhos
deixar estar
certas cousas
como fiapos
de carne
nos dentes
doces
como esperar
teu beijo
na boca
de bala
molhada
meu secreto-íntimo
era de te pegar no colo
cheirar teus cabelos
úmidos
enquanto
fala de
Belle&Sebastian...
Desculpa
O dia que não me estiver
mais acessível
sequer em remorsos
o que terá sido então
essa distância
toda?
Que signficará
orgulho
tomado
em silêncio
quando
tiver
duzentos
anos?
Quando descer
o Manto
de nossa senhora
sobre nós?
mais acessível
sequer em remorsos
o que terá sido então
essa distância
toda?
Que signficará
orgulho
tomado
em silêncio
quando
tiver
duzentos
anos?
Quando descer
o Manto
de nossa senhora
sobre nós?
16 agosto 2009
Curtas
I
hoje é a noite do perdão
podes desatar os nós
dos sapatos
da garganta
um ruído
rouco
pede stop
e mais um gole
de chá
II
palavras afiadas
ferem âmagos
todo prata
o vestido
reluz
uma coloração
plácida
ela bebe
champagne
em taça
de apanhar
burburinhos
no salão
III
a vizinha ouviu e fez que trouxe
pão para distrair a fome
de novidades a moça de leite
condessada
a beira da janela espera
a flor da sua vida
desabrochar ou virar fruto
o menino apanha goiaba e corre...
IV
bem depressa a rua
passa
por cima
atropelando a
idéia
que tinha
na ponta da língua
V
preciso arrumar meio
de apagar
o desejo
de meter as mãos
em teus
sinais de sim
VI
quero mais
teu corpo
caindo
sobre
o meu
duro
frio
e morto...
VII
a tarde chega
passo um café
um padre
passa
um filme na sorveteria
a menina pede casquinha de Elves Presley
e vai chupar duas bolas de coco
na praça Hollywood
VIII
Racismo:
um negro é atropelado
ao mesmo tempo em que um cão
cego treme de frio
na ásia
IX
aleatórias borboletas
pousam
amarelas
no cheiro
do pescoço
dela
entre
as lápides
da familia
hoje é a noite do perdão
podes desatar os nós
dos sapatos
da garganta
um ruído
rouco
pede stop
e mais um gole
de chá
II
palavras afiadas
ferem âmagos
todo prata
o vestido
reluz
uma coloração
plácida
ela bebe
champagne
em taça
de apanhar
burburinhos
no salão
III
a vizinha ouviu e fez que trouxe
pão para distrair a fome
de novidades a moça de leite
condessada
a beira da janela espera
a flor da sua vida
desabrochar ou virar fruto
o menino apanha goiaba e corre...
IV
bem depressa a rua
passa
por cima
atropelando a
idéia
que tinha
na ponta da língua
V
preciso arrumar meio
de apagar
o desejo
de meter as mãos
em teus
sinais de sim
VI
quero mais
teu corpo
caindo
sobre
o meu
duro
frio
e morto...
VII
a tarde chega
passo um café
um padre
passa
um filme na sorveteria
a menina pede casquinha de Elves Presley
e vai chupar duas bolas de coco
na praça Hollywood
VIII
Racismo:
um negro é atropelado
ao mesmo tempo em que um cão
cego treme de frio
na ásia
IX
aleatórias borboletas
pousam
amarelas
no cheiro
do pescoço
dela
entre
as lápides
da familia
15 agosto 2009
get me away from here I´m dying
Não se preocupe, doce namorada
ele só me procura quando
seus olhos vazios
permanecem sempre
insatisfeitos.
se acaso me encontrasse
num sorriso ou sorvete
já não haveria encanto
seria triste e igualmente
distante
como agora
é contigo
...
no quadro
sobre sua cabeça
ramalhete de elbas
nas alvoradas
púrpuras
nas texturas
de paredes
lisas as letras
que se desenham
no cheiro
do teu copo
de leite
um homem
que peca
...
longe da delicadeza triste com que seu olhar
amirava os vastos vales
de sua própria solidão
eu de túnica preta
e flores brancas
nas mãos
suavemente quieta
de aflições
ao seu lado feito
um pequeno pássaro cativo
enchendo silenciosa
as narinas de ar
rulhando um canto
triste
...
calçou sapatos
que não serviam
tentou
telefonar
se perdia
a toalha
os dedos trêmulos
de costas
para o mar
chora
como se o sol
não tivesse mais
onde se pôr.
ele só me procura quando
seus olhos vazios
permanecem sempre
insatisfeitos.
se acaso me encontrasse
num sorriso ou sorvete
já não haveria encanto
seria triste e igualmente
distante
como agora
é contigo
...
no quadro
sobre sua cabeça
ramalhete de elbas
nas alvoradas
púrpuras
nas texturas
de paredes
lisas as letras
que se desenham
no cheiro
do teu copo
de leite
um homem
que peca
...
longe da delicadeza triste com que seu olhar
amirava os vastos vales
de sua própria solidão
eu de túnica preta
e flores brancas
nas mãos
suavemente quieta
de aflições
ao seu lado feito
um pequeno pássaro cativo
enchendo silenciosa
as narinas de ar
rulhando um canto
triste
...
calçou sapatos
que não serviam
tentou
telefonar
se perdia
a toalha
os dedos trêmulos
de costas
para o mar
chora
como se o sol
não tivesse mais
onde se pôr.
11 agosto 2009
do perigo de compartilhar talheres
olhando daqui
nunca vi mãos tão belas
tecido, diamente, ouro
puro nada se compara a ela
alvas planícies em
labirínticas cadeias
venosas
o altivo semblante
um pouco
pálido
um pouco
tísico
os olhos
de obituário
olhando daqui...
por mais que seja rica
carrega uma rara
solidão que ninguém jamais
se arrisca achegar-se a ela
olhando daqui
debruçada na torre
de trovão sobre a noite que não vive
suspira
seu marfim
a mais sublime
tão cândida
flor
a qual
nenhum
mortal ousou
De óculos escuros
a de lábios virgens
desdenhados de batom
afoitos ardores
esperam...
o ouro que a fulaninha
da esquina
já regalou...
nunca vi mãos tão belas
tecido, diamente, ouro
puro nada se compara a ela
alvas planícies em
labirínticas cadeias
venosas
o altivo semblante
um pouco
pálido
um pouco
tísico
os olhos
de obituário
olhando daqui...
por mais que seja rica
carrega uma rara
solidão que ninguém jamais
se arrisca achegar-se a ela
olhando daqui
debruçada na torre
de trovão sobre a noite que não vive
suspira
seu marfim
a mais sublime
tão cândida
flor
a qual
nenhum
mortal ousou
De óculos escuros
a de lábios virgens
desdenhados de batom
afoitos ardores
esperam...
o ouro que a fulaninha
da esquina
já regalou...
08 agosto 2009
Baño de aceite para enternecer la piel
Deitou-se na grama umectada
sob a árvore
and whispered:
Be quiet dog
feel the wind…
feel the sun…
feel the sound
of the ground
when the grass
it´s growing green up
praque tal espetá
culo se já vivi mil vidas
repensando o peso
de los
equívocos
de siempre?
Se já fui árvore
Dog
Hoje
Spirit
The Same
Pain
Evoé
O que faço aqui
então
fatigado
vivendo os mesmos
uns uns uns
Os mesmos
Ohs!
Parce-que la vérité ne peut être vrai à travers les mots
lês mots sont l´ilusion
et tout que ce que nous pouvons dire à travers eux
c´est uniquement
arbitraire.
Por que não viro luz?
Why am I just
here
very concern about
mysel
fish in the water?
What about fly away?
What about die and born again and
over again and
I can´t forget...
sob a árvore
and whispered:
Be quiet dog
feel the wind…
feel the sun…
feel the sound
of the ground
when the grass
it´s growing green up
praque tal espetá
culo se já vivi mil vidas
repensando o peso
de los
equívocos
de siempre?
Se já fui árvore
Dog
Hoje
Spirit
The Same
Pain
Evoé
O que faço aqui
então
fatigado
vivendo os mesmos
uns uns uns
Os mesmos
Ohs!
Parce-que la vérité ne peut être vrai à travers les mots
lês mots sont l´ilusion
et tout que ce que nous pouvons dire à travers eux
c´est uniquement
arbitraire.
Por que não viro luz?
Why am I just
here
very concern about
mysel
fish in the water?
What about fly away?
What about die and born again and
over again and
I can´t forget...
07 agosto 2009
Apelo ao Jacarandá
à sombra da vida sinto que
o beijo morno da luz
não será
meu nem pleno apesar
da força das minhas veias
da força da minha saliva
que só meu fosse e seria
ainda maior o espasmo de crescer até tocar os céus com minhas pálpebras roçar as tenras nuvens]
queria a exuberância
das cores
ao toque
delipetalado
das patas
dos insetos
sobre as minhas flores
explícitas
o beijo morno da luz
não será
meu nem pleno apesar
da força das minhas veias
da força da minha saliva
que só meu fosse e seria
ainda maior o espasmo de crescer até tocar os céus com minhas pálpebras roçar as tenras nuvens]
queria a exuberância
das cores
ao toque
delipetalado
das patas
dos insetos
sobre as minhas flores
explícitas
O Cão
o cão observa
de soslaio
que olhos tristes...
o espelho encara a face
de vidro
em riste
a pia pinga desvairada
gotas frias
de orvalho
no ponto em que estamos
no inverno
que não passa
passaria pássaro
consciente como luz
mas onde andará
a andorinha?
de soslaio
que olhos tristes...
o espelho encara a face
de vidro
em riste
a pia pinga desvairada
gotas frias
de orvalho
no ponto em que estamos
no inverno
que não passa
passaria pássaro
consciente como luz
mas onde andará
a andorinha?
13 junho 2009
Amores III
há cores no vento
nas
amplidões dos
apartamentos para
alcançar eclipses ela sobe as ruas
e mantém nas gavetas
meias amarelas
pra dançar nua
quando esquece
dos fogos
cruzados
de artifício
nas
amplidões dos
apartamentos para
alcançar eclipses ela sobe as ruas
e mantém nas gavetas
meias amarelas
pra dançar nua
quando esquece
dos fogos
cruzados
de artifício
02 junho 2009
27 maio 2009
O Nascimento de Vênus
meu amor secreto nasceu numa tarde
de céu bonito
sentia sementes no estômago
e ao reparar teu cheiro
(pela primeira vez ao redor fez silêncio)
tudo parou e ouvia:
a voz das águas chamando
entre pedras frias
compunha quadros de lençóis
ao vento quando
tocaste minha
mão emergi fraca do vácuo preto
de tuas pupilas olhos tão cristalinos que quando me olhavam
pediam...
pediam...
mas nunca
perguntaste nada
de céu bonito
sentia sementes no estômago
e ao reparar teu cheiro
(pela primeira vez ao redor fez silêncio)
tudo parou e ouvia:
a voz das águas chamando
entre pedras frias
compunha quadros de lençóis
ao vento quando
tocaste minha
mão emergi fraca do vácuo preto
de tuas pupilas olhos tão cristalinos que quando me olhavam
pediam...
pediam...
mas nunca
perguntaste nada
20 maio 2009
28 fevereiro 2009
Poema Verde
assim sendo, íamos buscar algo
realmente grande no fim da linha
um absurdo aquela confiança
todas as vozes ao redor da minha mente
Só.
dizendo vai, não fica com esses pés atados ao chão e com olhos cegos de fé
solta as mãos e os cabelos, sê raio de sol
o sorriso perfeito
cada pele tem
seu gosto
próprio
um cheiro
Assim sendo íamos atados
um absurdo minha mente ao redor dos pés
ao fim da linha
o sorriso tem um gosto de sol cada raio seu dizendo vá
Só.
Não fica com esses olhos de chão a buscar algo na fé
Solta os próprios cabelos, sê realmente grande
de mãos ao redor da minha pele um cheiro
aquela confiança toda.
realmente grande no fim da linha
um absurdo aquela confiança
todas as vozes ao redor da minha mente
Só.
dizendo vai, não fica com esses pés atados ao chão e com olhos cegos de fé
solta as mãos e os cabelos, sê raio de sol
o sorriso perfeito
cada pele tem
seu gosto
próprio
um cheiro
Assim sendo íamos atados
um absurdo minha mente ao redor dos pés
ao fim da linha
o sorriso tem um gosto de sol cada raio seu dizendo vá
Só.
Não fica com esses olhos de chão a buscar algo na fé
Solta os próprios cabelos, sê realmente grande
de mãos ao redor da minha pele um cheiro
aquela confiança toda.
24 fevereiro 2009
Suely
O olhos azuis de Suely azuis de céu
com nuvens passando dentro
vejo pessoas
que jamais se tocam
abrindo suas bocas ocas
em ecos...
de tanta solidão
brotam trêmulamarelas
pomos d´oiro
e vendo deus quem era bom
separou o joio do trigo
Joio. Joie.
Sobraram as pessoas sóbrias
sobraram os sapatos
bordados, bolsas, as meias
que costura cansada
e
só.
Suely dissolve-se em pó de café
bebe fria, amarga e solitária
xícara
com nuvens passando dentro
vejo pessoas
que jamais se tocam
abrindo suas bocas ocas
em ecos...
de tanta solidão
brotam trêmulamarelas
pomos d´oiro
e vendo deus quem era bom
separou o joio do trigo
Joio. Joie.
Sobraram as pessoas sóbrias
sobraram os sapatos
bordados, bolsas, as meias
que costura cansada
e
só.
Suely dissolve-se em pó de café
bebe fria, amarga e solitária
xícara
páginas amarelas
amarelo o elo do anel
é belo amar a flor de cor
amarela o lírio belo beija
o beijar-flor que pousou na flor do cais
à festa vem vestida de
fita no vestido
os olhos desse teu marido
que até um dia atrás
éra menina
do mar
o amor a enfeitar
os olhos em
tralalalalás...
é belo amar a flor de cor
amarela o lírio belo beija
o beijar-flor que pousou na flor do cais
à festa vem vestida de
fita no vestido
os olhos desse teu marido
que até um dia atrás
éra menina
do mar
o amor a enfeitar
os olhos em
tralalalalás...
10 fevereiro 2009
black holes
Se o cheiro do ralo se fosse
essa fossa de umidades antigas
e resistentes formas
de encarar a vida escura
que vai se formando nos vãos
das escadas
embaixo da pia
o musgo saudável que recobre o tronco de árvores
verde macio é a grama
de um pequeno jardim imaginário
velhas nas calçadas
espreitam a água
penetra as rachaduras
fazem-nas tropeçar
digo-te cochichado feito flauta:
o pequeno jardim imaginário
compõe-se do alçar vôo de borboletas
do som minúsculo de suas asas
e do sol do sorriso úmido
de suor das crianças que ainda
brincam sujas nas ruas
sujas as paredes ficam frias
úmidas e gelada com alguém que amas
e não te liga
o fermento ácido da carne
todo esse vomito esse esgoto
será nutritivo
para a vida que brota até me dar nojo
até me fazer
chorar
de alegria
essa fossa de umidades antigas
e resistentes formas
de encarar a vida escura
que vai se formando nos vãos
das escadas
embaixo da pia
o musgo saudável que recobre o tronco de árvores
verde macio é a grama
de um pequeno jardim imaginário
velhas nas calçadas
espreitam a água
penetra as rachaduras
fazem-nas tropeçar
digo-te cochichado feito flauta:
o pequeno jardim imaginário
compõe-se do alçar vôo de borboletas
do som minúsculo de suas asas
e do sol do sorriso úmido
de suor das crianças que ainda
brincam sujas nas ruas
sujas as paredes ficam frias
úmidas e gelada com alguém que amas
e não te liga
o fermento ácido da carne
todo esse vomito esse esgoto
será nutritivo
para a vida que brota até me dar nojo
até me fazer
chorar
de alegria
25 janeiro 2009
cigarros de sergio - o cliche do escritório
O trem e seus músculos trêmulos de aço sempre rumo ao futuro. O terno, o terço e o terraço onde fumo meus compridos cigarros muda o turno da turma e eu no terraço a fumar cigarros, refletir a vida.
Veio então Claudete, de loiras melenas tingidas, atingia o cerne das questões, decidida: Desculpe a franqueza, Sérgio, mas seus cigarros fedem. E você todo fede depois que fuma. Falo na boa, cara, porque é verdade, sabe, eu vou bem com a sua cara, aliás,.por que não vem almoçar com a gente? Não, olha, prefiro comer sozinho, completamente. Eu e o meu fedor. Mastigar quieto, sem ter que pensar em nada interessante para dizer a vocês. Ela voltou com um sorriso tão generoso para sua mesa e ficou a sorrir o resto da tarde tão satisfeita por ter dito toda a reverberante verdade entalada meses a fio em sua grossa garganta.
Costumava perder aquele tempo azul que, na verdade, não se perde, o tempo de contar estrelas que acabou. Costumava passar as horas observando e tirando conclusões exauridas.
São cédulas cancerígenas que conto agora o próprio refrigerante que bebo todos os dias me faz mal e a suprema falta de forças, para chorar sequer, se quer mesmo saber a vida vai muito bem, um dia o teto cairá sobre nossas cabeças no escritório e esmagados pelo tempo a gravidade das horas que passei sem fazer nada. A abóbada celeste despencará suas bolas incandescentes sobre a burrice humana, até lá, vou cobrindo talões de cheque e as guias que nada tem com orixás, são frias as guias nas fervilhantes filas das lotadas e histéricas: lotéricas.
Seria simples ser e pensar e agir como eles. Just me. Juste you. Parecia cena de filme em câmera lenta as bocas se moviam e pude delinear detalhes virulentos como os beiços do Carlos, muito finos e arrogantes, uma boca maldosa, E os passos passavam pausados longos e largos rumo ao futuro e eu ficando pra trás, observando tudo do terraço, a turma mudar o turno de terno e terça-feira frita e eu fumando no topo do teto no terraço no fim do mundo. Se um dia pulasse daqui, seria engraçado.
Batia os pés ao ritmo dos quadris da menina e de um lado e de outro as portas fechadas a fumaça o suor daquelas mesas velhas gastas com capa preta de sujeita e suor, a garçonete ofereceu um cinzeiro, raspava a camada grossa de sujeira com a ponta da unha. Deposite seus restos aqui. Meus cigarros fedem, ora, que fedam. E a chuva? Sinto falta do temporal uma piscadela de olhos e a catástrofe, a água lavando tudo escorrendo pelas ruas entupindo tubos acho que é por isso que nem choro, essa sequidão do outono todo mundo tossindo, essa falta de. Não me sinto triste, a propósito, tenho lido mais, ido sozinho ao cinema e não é exatamente o vagueado dos passos do Sérgio esse lobohomobobo sapiens de quê? que me deixa nessa fraqueza de braços, essas costas curvas num engruvinhado de sensações ásperas e ebulitivas , tristeza não é; sinto-me vermelho vivo a vibrar, mas por dentro ainda estou oco, ovo choco. Não são os cigarros, Sérgio.Referia-se a sua boca. Sua boca fede, Sérgio, desculpe a franqueza, um dia virá e me dirá sorrindo. Um almoço amigo o turno a turma o terno e o terraço? Que vão todos juntos para o mesmo lugar! Fico sozinho, ruminando fumaça, fico cheio de mim inflando um sorriso supremo que depois se contrai.
&&&
Veio então Claudete, de loiras melenas tingidas, atingia o cerne das questões, decidida: Desculpe a franqueza, Sérgio, mas seus cigarros fedem. E você todo fede depois que fuma. Falo na boa, cara, porque é verdade, sabe, eu vou bem com a sua cara, aliás,.por que não vem almoçar com a gente? Não, olha, prefiro comer sozinho, completamente. Eu e o meu fedor. Mastigar quieto, sem ter que pensar em nada interessante para dizer a vocês. Ela voltou com um sorriso tão generoso para sua mesa e ficou a sorrir o resto da tarde tão satisfeita por ter dito toda a reverberante verdade entalada meses a fio em sua grossa garganta.
Costumava perder aquele tempo azul que, na verdade, não se perde, o tempo de contar estrelas que acabou. Costumava passar as horas observando e tirando conclusões exauridas.
São cédulas cancerígenas que conto agora o próprio refrigerante que bebo todos os dias me faz mal e a suprema falta de forças, para chorar sequer, se quer mesmo saber a vida vai muito bem, um dia o teto cairá sobre nossas cabeças no escritório e esmagados pelo tempo a gravidade das horas que passei sem fazer nada. A abóbada celeste despencará suas bolas incandescentes sobre a burrice humana, até lá, vou cobrindo talões de cheque e as guias que nada tem com orixás, são frias as guias nas fervilhantes filas das lotadas e histéricas: lotéricas.
Seria simples ser e pensar e agir como eles. Just me. Juste you. Parecia cena de filme em câmera lenta as bocas se moviam e pude delinear detalhes virulentos como os beiços do Carlos, muito finos e arrogantes, uma boca maldosa, E os passos passavam pausados longos e largos rumo ao futuro e eu ficando pra trás, observando tudo do terraço, a turma mudar o turno de terno e terça-feira frita e eu fumando no topo do teto no terraço no fim do mundo. Se um dia pulasse daqui, seria engraçado.
Batia os pés ao ritmo dos quadris da menina e de um lado e de outro as portas fechadas a fumaça o suor daquelas mesas velhas gastas com capa preta de sujeita e suor, a garçonete ofereceu um cinzeiro, raspava a camada grossa de sujeira com a ponta da unha. Deposite seus restos aqui. Meus cigarros fedem, ora, que fedam. E a chuva? Sinto falta do temporal uma piscadela de olhos e a catástrofe, a água lavando tudo escorrendo pelas ruas entupindo tubos acho que é por isso que nem choro, essa sequidão do outono todo mundo tossindo, essa falta de. Não me sinto triste, a propósito, tenho lido mais, ido sozinho ao cinema e não é exatamente o vagueado dos passos do Sérgio esse lobohomobobo sapiens de quê? que me deixa nessa fraqueza de braços, essas costas curvas num engruvinhado de sensações ásperas e ebulitivas , tristeza não é; sinto-me vermelho vivo a vibrar, mas por dentro ainda estou oco, ovo choco. Não são os cigarros, Sérgio.Referia-se a sua boca. Sua boca fede, Sérgio, desculpe a franqueza, um dia virá e me dirá sorrindo. Um almoço amigo o turno a turma o terno e o terraço? Que vão todos juntos para o mesmo lugar! Fico sozinho, ruminando fumaça, fico cheio de mim inflando um sorriso supremo que depois se contrai.
&&&
20 janeiro 2009
A casa sozinha
Em algum ponto obscuro aqueles olhos escondiam o intransponível e em suas pálpebras tremulava uma lagrimazinha, de pavor, recusada. Não desvencilhou o olhar enquanto o Pai dizia que não ia longe e em sua ausência fosse boa menina.
Os irmãos arregalaram imensos olhos mudos que tudo compreendiam. Então, com um beijo suave na testa da filha e o olhar triste de quem diz adeus, o homem se foi, levando apenas cigarro e uma caixinha de fósforos.
Ficou um tempo, anos, sentada, com o úmido da boca do pai na testa. Fechava os olhos e pela casa, nas paredes e nas roupas, sentia cheiro de alcóol e suor que sempre lhe lembrou o pai, tinha mãos pequenas e calejadas, tão escuras de sol.
Começou a ventar forte e atordoada correu a fechar janelas para que não levassem a casa. Tudo ficou escuro ao redor dos uivos do vento e da imensa noite que despertava furiosa, pronta para os devorar. Os meninos berravam com suas gargantas desnutridas.
A natureza os queria destroçados em ossos e açoitava seus corpos de criança. Os irmãozinhos gritavam todos ao mesmo tempo. Ela procurava, procurava tateando as gavetas: a gaveta de facas, mãos trêmulas, a gaveta de panos, tateando aos berros inacreditáveis de seus irmãos, desesperada com o pai que desaparecera na chuva brava, lembrou-se da mãe debaixo da terra, os cabelos tão compridos e vermelhos.
Então, um toco de vela tocou suas mãos, acendeu-o e começou a cantar um choro inumado, grunhindo seu cansaço, aninhou seus filhotes, cansou-se de cantar. Os irmãos adormecidos, desmaiados de tanto choro, pacificados com sua voz. A janela abriu-se sozinha, o vento apagou a chama que segurava em sua mãozinha. Era o sinal: o pai se fora.
Ela se levantou com a força de noventa anos-luz. O sono havia ido embora, para sempre. Enquanto seus irmãos dormiam e se apoiavam nela, aos noves anos, os novos olhos se abriram e surgiram dois leves contornos azulados que a cada dia escureciam duplamente maiores as pupilas estendidas que tudo viam além e para trás, novas cores, as pálpebras cresceram mais crespas e resistentes ao pó seco naquela terra que a todos cegaria, a ela não.
Seus cabelos eram nuvem, sua voz trovão, nada poderia cegar esses olhos-raios que não se fecham. Estava tudo bem guardado dentro dela a luz, o choro e a tempestade. Então foi capaz de amolecer aquele desejo atroz de desintegração da natureza, iria perpetuar-se na brisa verde e fresca dos que sobrevivem, lá fora, após a chuva, reinava a paz da Madrugada-que agora pertencia a ela, só a ela- em um céu tão limpo tão puro celestino e imenso céu de mim.
Os irmãos arregalaram imensos olhos mudos que tudo compreendiam. Então, com um beijo suave na testa da filha e o olhar triste de quem diz adeus, o homem se foi, levando apenas cigarro e uma caixinha de fósforos.
Ficou um tempo, anos, sentada, com o úmido da boca do pai na testa. Fechava os olhos e pela casa, nas paredes e nas roupas, sentia cheiro de alcóol e suor que sempre lhe lembrou o pai, tinha mãos pequenas e calejadas, tão escuras de sol.
Começou a ventar forte e atordoada correu a fechar janelas para que não levassem a casa. Tudo ficou escuro ao redor dos uivos do vento e da imensa noite que despertava furiosa, pronta para os devorar. Os meninos berravam com suas gargantas desnutridas.
A natureza os queria destroçados em ossos e açoitava seus corpos de criança. Os irmãozinhos gritavam todos ao mesmo tempo. Ela procurava, procurava tateando as gavetas: a gaveta de facas, mãos trêmulas, a gaveta de panos, tateando aos berros inacreditáveis de seus irmãos, desesperada com o pai que desaparecera na chuva brava, lembrou-se da mãe debaixo da terra, os cabelos tão compridos e vermelhos.
Então, um toco de vela tocou suas mãos, acendeu-o e começou a cantar um choro inumado, grunhindo seu cansaço, aninhou seus filhotes, cansou-se de cantar. Os irmãos adormecidos, desmaiados de tanto choro, pacificados com sua voz. A janela abriu-se sozinha, o vento apagou a chama que segurava em sua mãozinha. Era o sinal: o pai se fora.
Ela se levantou com a força de noventa anos-luz. O sono havia ido embora, para sempre. Enquanto seus irmãos dormiam e se apoiavam nela, aos noves anos, os novos olhos se abriram e surgiram dois leves contornos azulados que a cada dia escureciam duplamente maiores as pupilas estendidas que tudo viam além e para trás, novas cores, as pálpebras cresceram mais crespas e resistentes ao pó seco naquela terra que a todos cegaria, a ela não.
Seus cabelos eram nuvem, sua voz trovão, nada poderia cegar esses olhos-raios que não se fecham. Estava tudo bem guardado dentro dela a luz, o choro e a tempestade. Então foi capaz de amolecer aquele desejo atroz de desintegração da natureza, iria perpetuar-se na brisa verde e fresca dos que sobrevivem, lá fora, após a chuva, reinava a paz da Madrugada-que agora pertencia a ela, só a ela- em um céu tão limpo tão puro celestino e imenso céu de mim.
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