19 outubro 2009

inverno

o riso no rosto
é um risco
de rastros
sanguineos
pulsa
e goteja
possibilidades


o homem de bigodes
de chapéu coco que
caminha só sobre a neve
dos lábios secos
pende um cigarro apagado
nos bigodes
pequenos
flocos de
neve
acumulados
ele talvez volte
a tempo de rever
as begônias


florirem
nesta hora
morta

entreaberta

de eloquências
e estreitas recorrências
deseja apenas terminar o assunto no qual
ninguém está
prestando atenção
mas dizem que
seu senso de humor é sensacional!


só por uma noite
ou duas
as esquinas de l´Avenie
cobertas de branco
cruzam
destinos em distintos
ipês amarelos
e
a sua
saia de cores
hexâmeras
flutua
entre flocos de luz nossos dedos
entrecruzados
os meus ágeis buscam
a ponta pífia
do seu malboro light
e a fumaça sobe
bonita
em espirais azuis
pelas minhas narinas

e sinto deliciosa
brisa glaciam invadir
minhas coxas
flutuar em meus óculos de
órbitas saltadas
a espreita: a espera morta e estreita

parada.

o vento frio que vem depois da chuva
bater em meus cabelos de madrugada
nessa hora que não é
do tempo
e não somos nada
apenas poeria na estrada
da ampla solidão do cosmo
um hino de estrela
fugiria tênue
da minha boca
direto
pra a umidade dos teus olhos
luminosos
como um fatal
toque de parede fria
meu beijo
gelado nos teus dedos
de faca
atravessaria o avesso do pão
em fatias
mornas
de café e de neve

que
cai
em

Paris


o pulo do gato é leve
o leva para o alto
do muro
minhas pupilas dilatam
no escuro o olho do gato brilha
fagulhas de fogo fátuo
inteligência arisca e ao mesmo tempo

em que todos arriscam
e se divertem
eu, ex-vazio,
de conversações anônimas
e alpargatas velhas
assuntos empoeirados
que se desencadeiam
em meio a
quantas noites no centro da Avenida Batavo
onde todas as direções são curvas
re-conexas
eu como o homem de bigodes que sou
que não sabe mais partilhar
pequenas alegrias em saquinhos de batata chips
e mãos
engorduradas
chupo meus próprios dedos

minhas portas trancadas
de fora para dentro
estabelecem
além dos limites
de minhas pernas tortas
o muro que
barra minha
consciência
e
displicente
o músculo
exausto de alegria
soergue-se aos flocos
em branco ópio
de papel
até que as lágrimas congelem na garganta
e a última gota de chuva
caia no cinzeiro

sorrio pensando em como é quieto
entre a porta e meus sapatos

senil e obsequioso eau de parfum
eu e meus parafusos plásticos
suportamos apenas
desnecessidades
mórbidas
vistas à janela o
ríspido e amplo
ocenao afastando-se
do coração do humano

eu caio
em pingos
frios
no vislumbre
luminoso
da pétala
de qualquer
rosa

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