20 julho 2010

rio

o rio
nasce
da pedra
vai pelo cosmo

damião
me afoga
na imensidão da deus

e no brilho de sol
que todo
diamante
tem

08 julho 2010

propósitas

percebe que
é uma pessoa acoplada aos
óculos se
sem querer entra
pro chuveiro
com eles
se lembra
que
tem as mãos pequenas
e sujas
quando esquece os
sabonetes
duros

na pia
mergulha
na piscina pra
ficar um pouco mais
nua

07 julho 2010

Confissões de Adolescente

O medo de me perder vai até onde sinto nas palmas das mãos frias, se digo frívola que não te quero mais com a indiferença nos gestos do que fica. Feito pedra olho com a tristeza mansa do que ficará para poeira. De nós, que já estávamos aqui antes e restaremos para depois dos teus netos...quando tudo ficar pó quero apenas que seja como for, meu amor, segurar as tuas mãos até que durmas.

Sei do perigo escuro que é permanecer. Encerrada dentro da vida me tornando todo dia um mero detalhe teu.
Esqueço o trabalho vou para tua casa de trigo e de sol num mundo em núpcias que inventei para te ver melhor sem olhar. Se por exemplo sinto fluir teu sangue até o último suspiro, devagarzinho, esvaindo-se. Em ato e potência. Decaídos na cama de lençóis imundos.

Não estou aqui, nem quando quero, nem quando posso. Mas sou bem mulher ao teu lado. Mulher de carne e ossos. E te dou como ninguém risadas rasgadas, gostosa que sai da boca do meu estômago se enche de pequeninas libélulas quando você, amigavelmente, me beija até a efemeridade do teu acridoce a tua pele tem cheiro de algodão.

Sinto fome mas não lavo as frutas, não me basto. No entanto, mosaicos ínfimos, de mim me alimento sem apetite.

06 julho 2010

De-privé

Lá vai ela sorrindo qualquer coisa de sol
deixando uma
saudade de flor que
nunca mais será a mesma
quando voltar
do banheiro estará mais
cínica e deliciosa (a maquiagem)
toda retocada
atrás das unhas certas
sujeirinhas que
esconde com
esmalte

ascendo um incenso
penso na sua boca
curvilínea
no quarto tento uma
introspecção
mística então percebo que a festa
em minha casa mal
começou as pessoas na sacada fumam na fila do banheiro tudo é tão ágil
e animadas entram cinco, seis moças sem sapatos, cambaleantes os quartos estão todos

ocupados...

alguém vomita no tapete simplesmente
não faço sentido neste
lugar um sujeito tipo
austríaco diz que seu tio era tetraplégico e
fumava de madrugada,
charutos escondidos e não sabia como ele fazia isso
porque tinha quatro filhos
pequenos


devia estar bêbado porque ri disso
bem além do normal
esse pessoal que
eu mal conheço
amigos de amigos bolhas
de alegria usando óculos
escuros-enconderijos
não via os olhos de ninguém
exceto

os
dela
procurando
em volta
como se não me
visse
como se estivesse
obstruindo
sua
visão
não me
olha nos
olhos jamais
sorri

quando
alguém apagou as luzes
todos dançaram em volume elevadíssimo
a música levou embora minhas
últimas
palavras a esmo tipo:
e ae o que você anda lendo?

os flashs
de euforia
a engoliram medonhamente
entre as
silhuetas
símeas
ninguém percebia. todos pulando
e falando merda

batendo as cinzas no braço do meu sofá como se
lá estivesse um
cinzeiro

invisível
me movia entre
alguns amigos
encho meu copo de vódica
se estraçalha
na parede pergunto
se alguém tem
um puto

dum

cigarro

Ei,

menina, vem cá
eu tenho fogo
então
me dá
um



cigarro

05 julho 2010

contato uspiano com a chuva

Nunca mais os dias de chuva serão os mesmos, pois eram os teus cabelos que estavam molhados e nas ruas da praça do relógio- em meu mundo ordenadamente caótico- só havia nós dois.

E você falando comigo através das lentes dos óculos minúsculas gotas de luz brilhavam tanto um brilho que só poderiam vir de mim pois o céu era um triste veludo púmbleo e eu me pegando enamorada de um estranho doida para me deitar em seu encantador sorriso tímido, encantador sorriso tímido -com duas covinhas convidavam um amor cheio de mistérios e melodias, como um baile, Pedro, de máscaras.

Escondia o rosto na barba feia e rala e eu sei de olhos tão pequenos me amargam agora quando lembro da alma que tinha o teu olhar. Eu sei que é velho e repetido o que te digo do nosso dia de chuva entre tantos outros dias
Em que lágrimas prismáticas cairam do céu, frias e benditas, Rafael, diabético e esuivo tinha tantas amiguinhas chatas, as quais eu não curtia, te sufocavam.

Desapareceu como o orvalho nas manhãs de brisa restou-me apenas esperar que a lilás flor do estio brotasse na Pedra do teu coração de rocha. O meu magma por dentro inerte nesta forma de flor espero reencontrá-lo encarnado no espírito
beija-flor.

Bis-coito (2003)

meu coração se conquista em silêncio
não vai adiantar palavra
derramada

sinto teu vigor quente na ponta dos dedos
tua virgindade de uma Antigüidade maior:
de um mundo de deuses esquecidos, tão colorido...
assim, se me apaixono por teus cabelos
resplandecem ao sol.
Juro
que tudo é possível
que me caso contigo!

Mas pós-coito
és uma banalidade qualquer:
a cor dos teus olhos,
acordar contigo,
que fastio!
teus seios nus e rijos...

torcendo as mãos, mordendo os lábios

sorri amarelo-sol e reparo que teus dentes são um pouco azuis
tua melancolia me falta fôlego pra acompanhar-te
até o portão.

Estimação (2003)

Meus dentes são para morder.

Não sairei isenta de nada.

Foram feitos fortes para te rasgar
os músculo do coração beber teu sangue
quente de bicho morno

Escutas o que digo?
Vou partir de mim mesma mais ampla
que esses dentes
cravados nas
tuas gengivas

por enquanto

escuto quieta os ruídos
do teus sapatos no asfalto
arranha os pêlos
da tua pele
hoje
minhas linhas só dão nós

nos lambemos
feito gatos
de rua

De lírios brancos/ Clarice (2004)

Do céu escuro é que tenho ímpetos
de ir muito além
deste pavor de maxilares rangendo
em fome no oco da barriga
vontade do teu sexo

Escorro em vermelho

que é vermelho vivo de beber
de tragar meio louca,
toda dona de mim, ao meio dia meus
seios estão soltos e mornos para teus lábios quando
o mundo mergulha em mim e o aceito nua

e crua até o céu traz certas
delicadezas de luz
Estou tão só em dissolução
somente a água
me envolve um brilho diferente na multidão e
me faço de tão forte
perguntando a pior pergunta: quem és tu, loba ou santa?

o espelho olhava mudo soltava os braços e me abria pétala por pétala às tuas mãos estranhas

como eu à minha janela do céu
juntos nunca sessa a brincadeira
de quem quer rir da borboleta?

e depois, de noite,
elas voam em silêncio...
(mulheres como eu)
em ânsias de flor em
flor

Dançando no Escuro (2004)

E se nossa vida fosse um desses filmes que passam de madrugada?
Pra pessoas cults que morrem de medo de si mesmas?
No meio da noite gelada e palidocenta em que a boca seca e qualquer sensibilidade se volve a lágrima? Como se chovesse cacos de vidro lá fora.
Valeria a pena vasculhar teus velhos baús? E saber se a solidão tem uma trilha sonora? A janela sussurra: deslize. E seria fácil confundir o vôo sublime do êxtase com tua própria queda. Nós na garganta surgimos sempre que nos encontramos nos estranhamentos de todos dias passo pelas mesmas ruas torcendo para que a tragédia aconteça. Que o céu desabe em nossas
consciências procurando entre todos esses olhos castanhos os teus, me sorriam. E que espécie de cortes bruscos e lógicas abstratas eles carregam certa opacidade.

O que te aborta, o que te priva de ti mesmo?

A música do teu fone de ouvido alta demais para teus pequenos pés que dançam indolentes e voltam aos velhos hábitos apenas para lembrar de quão ressequida a tua vida parecia até que sucumbe mas ela pára para observar um grão de poeira subir em rodopios do teu vestido vermelho inverte toda a lógica do meu mundo e te
levarei para sempre comigo, a vida a sério, para longe de mim
mesmo que teu mistério seja sempre sombra de gruta
mesmo que seja sempre o que poderia ter sido.

Escutanndo vozes, abrindo os olhos sem tristeza, sem nada mantenho um medo de que tudo quebre e se perca que o coração cansado desista e pare.
É tão depressa... as luzes giram esperando por mim. E aos vinte e dois anos! Aos vinte dois anos e vejam só! Nem sequer passou por nada na vida, a platéia que o diga! A noite chega. E lá se foi mais um dia!
Acaso ignoras que precisas fazer algo da tua vida? Algo drástico. Com alguma sorte haverá teu sangue a encher os olhos quase fechados de tédio de todos esses semblantes ásperos.

Nossa madrugada é um filme mudo. De uma história repetida e gasta que
já passou por todas as garotas de óculos, por todos os saquinhos de pipoca esquecidos no sofá mas que ninguém se lembra do material do qual somos feito um para o outro o que seria

esta película em nitrocelulose o que seria além de uma pretensiosa comédia romântica convertida em explosivos? Eu que sempre te amei e à tuas mágoas mal engolidas não sei o seria mesmo que te amar seja sempre estar

Dançando no Escuro.

04 julho 2010

quadrilha

Arrumei os cabelos
ascendi um
sorriso
para
esperar teu beijo bebê-lo
quente de queimar
a língua

masquei dois
chicletes ao mesmo tempo em que ia
saindo dancei
aflita
como se momentos

antes

na praça
o ipê florisse
na janela
do quarto eu olhavaa
pro Michael caindo morto
-fulminado Jackson
meus olhos
corriam
procurando por ele
em câmera lenta vi
seus lábios beijando
a boca
de outra
guria

Poema sentimental chato e aborrecido

há muito não te via
quando virou o tempo
o que fazía
sem sentido esse silêncio
que nos envolvia
um tesão magnético no pálido
raiar do dia
tu empunhas um cigarro
nas pausas claras da manhã
eu me calo
(culpada)
de não teres ensejos
de te aproximar mais
deparar-se com meu corpo
mole
aquietado
na rede
esperando um
beijo vem a borboleta imprópria
roubar suspiros

você não fala comigo
nem o livro que leio
apaga a chuva
de amanhã
em águas que caem claras-iansã
das pálpebras dos meus olhos
em borrões
de solidão a
dois

01 julho 2010

oco na garganta

em frente ao
oncologista esparadrapos humanos
mastigando
cachorro-quente por um buraco de metal na garganta eu
me perguntava se

aquelas flores feias no jardim
nasceram ali
por acaso se
o refrigerante vazaria pelo orifício de metal se
sua voz seria como a de um
monstro ou se ele poderia
comer, falar e cuspir
como qualquer um de nós
em frente ao
hospital
esperando
sentado
a sentença
de vida
sem
garganta