06 julho 2010

De-privé

Lá vai ela sorrindo qualquer coisa de sol
deixando uma
saudade de flor que
nunca mais será a mesma
quando voltar
do banheiro estará mais
cínica e deliciosa (a maquiagem)
toda retocada
atrás das unhas certas
sujeirinhas que
esconde com
esmalte

ascendo um incenso
penso na sua boca
curvilínea
no quarto tento uma
introspecção
mística então percebo que a festa
em minha casa mal
começou as pessoas na sacada fumam na fila do banheiro tudo é tão ágil
e animadas entram cinco, seis moças sem sapatos, cambaleantes os quartos estão todos

ocupados...

alguém vomita no tapete simplesmente
não faço sentido neste
lugar um sujeito tipo
austríaco diz que seu tio era tetraplégico e
fumava de madrugada,
charutos escondidos e não sabia como ele fazia isso
porque tinha quatro filhos
pequenos


devia estar bêbado porque ri disso
bem além do normal
esse pessoal que
eu mal conheço
amigos de amigos bolhas
de alegria usando óculos
escuros-enconderijos
não via os olhos de ninguém
exceto

os
dela
procurando
em volta
como se não me
visse
como se estivesse
obstruindo
sua
visão
não me
olha nos
olhos jamais
sorri

quando
alguém apagou as luzes
todos dançaram em volume elevadíssimo
a música levou embora minhas
últimas
palavras a esmo tipo:
e ae o que você anda lendo?

os flashs
de euforia
a engoliram medonhamente
entre as
silhuetas
símeas
ninguém percebia. todos pulando
e falando merda

batendo as cinzas no braço do meu sofá como se
lá estivesse um
cinzeiro

invisível
me movia entre
alguns amigos
encho meu copo de vódica
se estraçalha
na parede pergunto
se alguém tem
um puto

dum

cigarro

Ei,

menina, vem cá
eu tenho fogo
então
me dá
um



cigarro

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