27 setembro 2010

oi tudo bem como vai?

ele passa com pressa nunca
me nota ao seu lado eu páro

o solitário

olho pra ele e além
dos seus finos traços fincados
nos ossos ele diz que está
publicando estrelas que explodem, ascendem e apagam rápidas
se tornam buracos negros
para seu público
invisível da madrugada

conhece as dores lacônicas do frio a da chuva e o bolso vazio todos os bares
fechados
ele ri seu humor é áspero
esfola minha pele delicada
em fachadas descoloridas
seus dentes mordem um fiapo mínimo
de tranquilidade
pausa pra fumar um
cigarro em paz talvez encontrar alguém que o escute por mais de
dez minutos

porque éramos inocentes antes de tudo isso

venenosamente fluímos um para o outro
feito
rinocerontes selvagens idiotamente digo adeus
até mais

abrupta, na verdade, tenho as costas muito curvas tenho tempo
e até opacidade e um oco
magérrimo cravado no rosto dele

 questão de provar que sou crânio pó e osso aberto aos comentários
eventuais e sintéticos que escuto pra me aproximar mais
dele

e não consigo

das memórias




fragmento um

até porque já era tarde demais a boca dela na boca dele siamesas uma delas aleijada
assustou-se a ferida no canto do lábio
vomita discretamente


e ele chão no entanto chão agora chão quando chão
virulento contanto chão
desconfia-se de tudo, é recomendável e faz o exame

Um sapo atropelado no asfalto se debate inutilmente
Respeita o próximo
suspira

- entendemos
Você acha que vai ser alguém só porque anda por aí dizendo disparates
e está ficando seco e oco e brocha e cada vez mais passivo vermes vão estuprar teu corpo ainda acaba
se descobrindo doença e se descobrindo doença morrendo
idéia obtusa, imagem opaca, rastro terrorista de um desastre físico que está ficando velho e gordo e brocha e é um absurdo
essa pretensão toda

uma bica em cheio no estômago



alguém se solidariza: você quer nos contar uma história?
tarde demais
o homem suspira
Mas ele/ela/eu
somos o desequilíbrio da matéria
condenados a todos
portanto nenhum alívio

a asfixia de cada artéria
explode metástase múltiplos

orgasmos

grave ferida de metal parasita espécie anfíbia
gravita zonas e puteiros da lógica segue semi-automática sem-
mais
nem
tempo algum
100tv 100t v 111111v
não é mesmo 100teto = rua + eletrecidade oculta no tato dos classificados
Tentado no deserto que durmo acordo dentro de mim mesmo
Eu sou embora Não pode morrer
de cócoras
se debate
se esforça
para se parir
vida
again
vida
a gain of life @TokyoTown


sem o direito de permanecer
parado Tudo que fizer pode e será usado contra você contra a parede úmida do teu sexo vulgar contrafluxo mucosa puta barata geme medo barato infestado de perfume de puta barata pede pra eu enfiar tudo pede implora por pouco não chora as paredes quase desabam o céu cinza quase desaba sobre a cama se espalha pelo tapete penetra estas frestas qT restam enquanto você rebola um roq qqr
ando tendo essa lembrança
como se
você me mandasse um pensamento e eu te
comesse
até que o próximo
comece e eu tenha ido
O próximo
determinando se 1próximo exterminando 1 a1 1x1
O próximo
1 1 1 1 A pele descascada Pétala sépala Alguém batendo na porra da porta Não consigo dormir Com quem Não siga pegadas Consigo Sem sombra De dúvida de cada carne de terra de tudo Um absurdo Aquela confiança toda 1 1 1 1


por M.G/T.A.

17 setembro 2010

dor de cotovelo

O ciúme dói nos cotovelos,
na raiz dos cabelos,
gela a sola dos pés.

Faz os músculos ficarem moles,
e o estômago vão e sem fome.
Dói da flor da pele ao pó do osso.
Rói do cóccix até o pescoço
Acende uma luz branca em seu umbigo,
Você ama o inimigo e se torna inimigo do amor.
O ciúme dói do leito à margem,
dói pra fora na paisagem,
arde ao sol do fim do dia.

Corre pelas veias na ramagem,
atravessa a voz e a melodia.


caetano veloso

16 setembro 2010

perdedores I

tu não é apenas o gordinho bacana . é meu amigo pedro e todas essas perturbações são válidas e relevantes, todo mundo tem direito de ser medíocre. se é o que te abala. todo mundo tem direito, cara, de ser o cagaço que quiser puder ninguém dá dando a mínima pra mais ninguém.

como não saem logo novas versões atualizadas do seu humor assassino e azedo, essa coisa de tietagem não rola, e é vexatória não vão gostar mais de você porque tu leu uma caralhada de livros, porque teu papo é fodástico, e tem vinil raro de samba, nem que tu fosse sarado, surfasse e esquiasse nos alpes. se bem que seria ótimo esquiar nos alpes. mas olha pra você. olha pra você.

fica tentando se convencer que existem nomes teorias cálculos que brilham. gente que brilha ofusca o resto da humanidade. entende? a mediocridade é a pedida.

quando se chega perto e tira aquela aparatada toda camada de base , pó mágico, photoshop, resta apenas um medo animal e abissal de ser mais um, de não ter grana fama glamour de saber qye apodreceremos embaixo da terra queira nosso orgulho ou não. sabemos que no fim que aidianta ter porra alguma e se seremos mais um burro de carga cagado como toda a gente.

dissipando a fumaça e o gliter vejo bem no meio da fuça de qualquer artista uma acne purulenta do tamanho da torre eifel nada idealizado simplesmente um bando de gente que quando tem alguma inteligência opta pela obscuridade

uma dor de ser humano na barriga. vômitos de agonia. tá todo mundo flutuando na mesma merda você só precisa se acostumar com o cheiro, eles disfarçam com perfume champagne viagêns spas, mas nós mortais fazemos uma boa piada sobre essa merda e tomamos nossos goles de cerveja e futebol, entende?

enfim, se insistir em ser e pensar apenas como um gordinho boiola bitolado em livros ela vai continuar ensimesmada para sempre. tu nunca vai arrancar o essencial que é deslumbrar um pouco a mulher. pega-la quand estiver despercebida de si.

então a gente vê você como simplesmente alguém que precisa sentir dor . sei lá o que você precisa mesmo é de uma aparência mais agradável a não ser que você seja o cara mais incrivelmente filho da puta de interessante e tenha um motivo fenomenal pra ser legal o tempo inteiro, representar uma fantasia ridicula de homem vindo de outro espaço, sei lá. haja saco. haja perfeição. uma hora todo mundo cansa e o que segura o peão é a capacidade de revolucionar-se sobre seu próprio eixo, não parar, cara, procurar o nervo, o tutano dessa porra toda ir na veia.

até essas resmunguices, esse pessimismo filosoficamente embasado, seus dissabores ,
teorias cósmicas, suas cólicas existenciais começam a apodrecer e cheirar mal na estantezinha abatulhada de livros que você foi juntando lendo engolindo enfiando cu a dentro pra criar fortaleza moral pra suportar a lanchonete sei lá, cara, você nem parece de verdade. nem sei como alguém É de verdade, como as pessoas se inventam, mergulham em seus sonhos absurdos e vivem nelas mesmas mas não me soa verdadeiro você vir aqui com esses óculos ernormes essa barriga gorda dizer que está sozinho que ama uma menina que é sua coleguinha e não consegue comê-la.

enfurnado numa candura dura de espetos depois as únicas pessoas que compreendemos bem somos nós mesmos mesmo, mas você parece de papel de carta...

além de que tá mais que provado que a essa altura a úica coisa digna e decente a se fazer é beber muito e falar menos.

engolir as pessoas tomar o sumo delicado delas aspirar as sutilezas perfumosas de uma mulher bonita solitária é essecial agarrá-la meter a língua na boca dela meter a semete do desejo em seu coração -é mais fácil até quando são casadas, só precisa ter uma aparência razoável e um espírito inabalável de pureza e aventura.

tu precisa de uma jovem que nem desconfia como é linda e que está prestes a jogar tudo no luxo no ralo dourado do tempo toda sua seiva viva e maravilhosa em doreszinhas que de tão miudainhas não a fazem melhor a deixam com olheiras roxas e uma boca caída e vai se perdendo nos detalhes sem impotância.

enquanto isso, meu caro, chega mais. um brinde as promessas que não faremos

por mais que aproveitem a vida por mais que a gente se esforce. presta atenção: só faz sentido a auto-destruição. lógica implacável, intuição plena dos sentitivos, só os delicados de espírito compreendem que vão morrer que o mundo se evapora que a noite sucede o dia o adulto sucederá essa criança que você insiste ser e que o cadáver e a aniquilação é o rumo de tudo isso, então, que fazer, pra se sentir real e de verdade? e não um fake formado em engenharia um homem de bloquinho e cimento. construindo muros a murros de poesia concreta, uma fortaleza de teorias babacas que te impedem de comentar o tempo e arranjar mulher, burrinha que seja, todas são essencialmente carnes macias e doravante cansam não importa o QI.

o que te falta é sinceridade pura introvertida e regurgitada. o que te falta é rastejar. sim, rastejar de ridiculo de pena de amor...

lembra quando você tava com aquela agonia no peito que nem escrever morrer nascer dá jeito então a gente saiu e conheceu aquela guria puta que pariu ficou bebendo fumando falando sarcasmozinhos o tempo todo na hora certa e depois ela te olhou como uma velha pantera das noites a raposa da boemia te olhou e disse. que tal trepar? e não foi bem vambora! oba que você disse, não você...depois ela desistiu, antes mesmo mostrar a coxas voltando os peitos pro sutiã, quando seus olhinhos brilharam. pegou a bolsa saiu e não pagou a conta, cara. não pagou...


15 setembro 2010

céu

à deriva vem e vão
os dias lá fora

quente com veneno
o sol levanta alveja
minha cara lavada de luz
azul logo acima das folhas
pálida logo acima do vento
morna logo acima das nuvens...

o que seria do céu se sempre fosse negro
ou se de repente algum consenso dissesse
que é azul, cinza ou amarelo sem
que se reconhecessem nele
a essencialidade de ser
simplesmente céu

todo céu
por dentro
tem um eu
sem esse eu o céu
é somente um c

sozinho e agudo não
chega
às brancas
alturas

13 setembro 2010

breve história do sol

subia a rua a pé a cabeça ofuscada pelo meio-dia incandescente nas calças pretas nos braços abafados dentro do casaco lá do outro lado da calçada a pequena multidão em forma de fila indiana já aguardava a vez de.

recostei num resquício de árvore que esqueceram de cortar. e do pequeno e humilde toco que sobrou brotaram uns galhos tímidos e logo a árvore decepada recompos-se exibindo flexibilidade, vitalidade e paciência infinita, algumas folhas brotaram e era essa pequena aberração a única fonte de sombra do local. os carros passavam exalando fumaça e aumentando o calor. lembrei que na minha cidade alguns tinham a pachorra de deitar óleo quente na raiz da árvore, para que ela não voltasse a brotar jamais. tirei o casaco estava encharcada de suor. as calças pretas coladas às coxas esquentavam minhas pernas às raias da loucura.

a maquiagem, minha máscara facial, derretia.

no bolso tinha restos de cigarros que ia guardando numa caixinha de fósforo, mas fósforo mesmo não tinha. passou uma senhora gordinha com um daqueles cachorrinhos gordos e mimados que logo morreria entupido de gordura feito a dona. pareciam tão velhos. um mini-doberban de fucinho grizalho dentes podres amarelos e totalmente apaziguado quem sabe pelas cataratas. a língua enorme pendida, pingava.

sorri e acenei ela fez que não viu ou não viu mesmo: óculos grossos e ceguetas quanto maiores menos se pode ver atavés. depois um casal moreno-baiano rosto carregado de sol. os dois de cabelo crespo. a cara da mulher coberta de óleo e espinhas. passou chupando abacaxi pedi um cigarro espesrando um fósforo, não tinham nada, além do abacaxi.

minha boca estava seca. a fila andou um passo depois da uma hora e meia sem comer comecei a suar frio, de calor. a sombra foi desaparecendo aos poucos e mais meio minuto tostando sob o sol, comecei a lacrimejar, teria de desistir da fila. dos meus objetivos, da minha vida inteira. fui me esconder no Trianon. comprei uma barrinha de cereais, dane-se a fila, e uma garrafa d'água por 3,90. corri para debaixo de uma árvore e senti o vento que batia verde pelas frestas da falsa floresta.

tirei minhas sandálias e me respirava calamente um homem magro, feio e carioca se aproximou. disse se podia desenhar meus pés.

você pode desenhar o que quiser, colega. a caneta é tua. no que entendeu muito mal pois tocou duas vezes meus pés para melhor, posicioná-los. sua mão era gelada e asquerosa.

quase meia hora depois eu me levantei para dar o fora rapidinho dali. quem sabe a fila não...
ele me deteu e me mostrou uma folha em branco perguntando se eu tinha gostado do desenho. é só a gente ir até um parque, incrível, encontramos um maníaco do parque.

08 setembro 2010

ampulheta

no mesmo horário todo dia ele toca e mesmo que não toque
desperto em susto
ah! é domingo...

semanalmente um erro vem destituir a pose
de asseio não lavo o cabelo
nem aparo as unhas

o certo é que
uma vez por mês
me explodem espinhos
sangram ardem enfeiuram
o rosto e o resto
esqueço de devolver

os livros não lidos
se empilham me olham
tristes criados-mudos esqueço
as roupas do avesso
e até onde botei a...
o que mesmo?

e uma vez por ano
uma vez só
ele liga.
mas... se lembro
bem já faz uns
anos que
não manda
notícias...

07 setembro 2010

trilhas sonoras

ele me olha como a última vez
que abriu os braços pra brincar de
pássaro

a barba um pouco:
não

no capô
do carro

todos dentro do apartamento
todos com o corpo colado à grama
a chuva nos olhos os olhos no
céu
escuro o próximo
passo
em direção a

alguém rio
disfarçando as montanhas
alguém chuva
molhando os pés
nas poças
enroscando o
rosto à terra

o peito aberto
aos resfriados

os pés desnudos
principalmente
as palmas das mãos
apertam
meus seios tão pálidos
tão
pequenos

respiramos juntos
e me vejo de vez que não.

as pequeninas flores espalhadas pelo campo agreste
do vestido e os lugares que estivemos antes
não existem mais
as florestas
antiguíssimas
que habitamos
não existem os peixes coloridos
que pescava
no alto e bom som do seu carro

o saquinho de amor estourou espalhando
lentamente sangue
no tapete branco
do banheiro

mordia os lábios pedindo
meu mel mordia a pétala da minha
pele

mas agora é fumaça apagada aqui no cinzeiro
sobe espirais
de saudade
pra fora da sacada do
no alto azul
da tarde as trilhas
tortas
dos bosques aos sábados
em que a gente seguia
a bruxa
prendia
meus
cabelos compridos
cobrindo as orelhas
aquele menino lívido
quando me pedia colo
eu dava
me mandava às favas
às vezes
andava
calada demais
pensando
justamente
no cinzeiro
você apagando
a fumaça
seu cheiro
um odor de passado
ao redor
dos papéis curtidos nas obscuridades
das gavetas que
não abrimos
nunca mais tuas empoeiradas botinas
abriram trilhas dentro
de mim

não consigo
fechá-las

05 setembro 2010

cálculos renais

o engenhoso engenheiro
acordado como se
engendrasse planos
para
seu apartamento
novo

fechado no quarto
acordados os olhos
não piscam

será que quebrou por dentro ?
na queda da
garrafa
térmica
de café
escorrido em líquido preto
sem açúcar
palpitações nas veias
das coxas
frias

a poeira vem da janela infiltrar-se no nariz a dentro estuprando a garganta
seca
a boca quase baba aberta pensando olhos fixos no papel
de parede

o carpete manchado fumegante de café
ele limpa as mãos na toalha branquinha -a última
antes de arrumar
as malas pra clínica tratar seus
cálculos suas dores
de cabeça

02 setembro 2010

teu olhar me era um grito

não te movas o tempo
se estraçalha ao menor suspiro
quebra
-se
misturado ao cheiro
de caju de época

que nada
é mais solícito
que o suco
da tua saliva

gota por
boca um alívio
quando pára
tranquila
esticando bem as
pernas
levemente
abertas entregando

corpo
e barriga
mornos
ao canto
mais sombrio
da tarde


com a voz
de pássaros
longe
entre os galhos
do cajueiro

não chore
fique linda manhã de sábado
com folhinhas
secas
nos cabelos

esparramada
a grama
espeta tua pele
delicada