subia a rua a pé a cabeça ofuscada pelo meio-dia incandescente nas calças pretas nos braços abafados dentro do casaco lá do outro lado da calçada a pequena multidão em forma de fila indiana já aguardava a vez de.
recostei num resquício de árvore que esqueceram de cortar. e do pequeno e humilde toco que sobrou brotaram uns galhos tímidos e logo a árvore decepada recompos-se exibindo flexibilidade, vitalidade e paciência infinita, algumas folhas brotaram e era essa pequena aberração a única fonte de sombra do local. os carros passavam exalando fumaça e aumentando o calor. lembrei que na minha cidade alguns tinham a pachorra de deitar óleo quente na raiz da árvore, para que ela não voltasse a brotar jamais. tirei o casaco estava encharcada de suor. as calças pretas coladas às coxas esquentavam minhas pernas às raias da loucura.
a maquiagem, minha máscara facial, derretia.
no bolso tinha restos de cigarros que ia guardando numa caixinha de fósforo, mas fósforo mesmo não tinha. passou uma senhora gordinha com um daqueles cachorrinhos gordos e mimados que logo morreria entupido de gordura feito a dona. pareciam tão velhos. um mini-doberban de fucinho grizalho dentes podres amarelos e totalmente apaziguado quem sabe pelas cataratas. a língua enorme pendida, pingava.
sorri e acenei ela fez que não viu ou não viu mesmo: óculos grossos e ceguetas quanto maiores menos se pode ver atavés. depois um casal moreno-baiano rosto carregado de sol. os dois de cabelo crespo. a cara da mulher coberta de óleo e espinhas. passou chupando abacaxi pedi um cigarro espesrando um fósforo, não tinham nada, além do abacaxi.
minha boca estava seca. a fila andou um passo depois da uma hora e meia sem comer comecei a suar frio, de calor. a sombra foi desaparecendo aos poucos e mais meio minuto tostando sob o sol, comecei a lacrimejar, teria de desistir da fila. dos meus objetivos, da minha vida inteira. fui me esconder no Trianon. comprei uma barrinha de cereais, dane-se a fila, e uma garrafa d'água por 3,90. corri para debaixo de uma árvore e senti o vento que batia verde pelas frestas da falsa floresta.
tirei minhas sandálias e me respirava calamente um homem magro, feio e carioca se aproximou. disse se podia desenhar meus pés.
você pode desenhar o que quiser, colega. a caneta é tua. no que entendeu muito mal pois tocou duas vezes meus pés para melhor, posicioná-los. sua mão era gelada e asquerosa.
quase meia hora depois eu me levantei para dar o fora rapidinho dali. quem sabe a fila não...
ele me deteu e me mostrou uma folha em branco perguntando se eu tinha gostado do desenho. é só a gente ir até um parque, incrível, encontramos um maníaco do parque.
13 setembro 2010
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