26 junho 2013

A cretina

árida
ariana
não
me arranha
neste arame
farpado

áspera
espartana
não me 
espalhe
em ossos e carne

justa
jactância
sua fuga
é sua ânsia

que não me falhe
meus filhos
não são
santos

que não me talhe
meus gritos
em
sânscrito

enquanto houver
sobras sobre
o prato de
comida

haverá fome
do outro lado
da avenina

mesmo se houver sorte
na partida
haverá dor
e ranger de dentes
em outra esquina

mesmo se sobrar
brilho e brilhantina
haverá sempre uma
cretina
a te
criticar

Vintém

Se quiseres
mandar
em alguém
começa por
quem 
não tem
vintém
mas
se queres obedecer
habilmente
basta teres em
mente
tentar
ser
feliz

é sempre alhures
o teu ilustre
prazer

e por ele pagas bem
com o que tens
e o que
não
tens

e o prazer
pulveriza
tua virilidade
tuas varizes
vazam

tua vaidade
é o vácuo
da opacidade
e
se queres libertar-te
do que prende
do que solta
o que pretende
enrosca-se
em nós
mesmos
comentário curtido
em puro tédio cáustico

sonâmbulo
no espaço
confere
a impotência do 
ato

tateio até
o que é vago
e contorno
sua vida
em
fotos, fatos,
status e
obstáculos

insone
sei que o sono some
na velocidade
do seu nome

orgulhoso, não me movo
em direção
ao teu abismo magnético,
minha cara
a chupar
amenos delírios

de ao menos
te fazer rir
na torrente
caótica
que é tua
mente
confusa
e mimada

de ao menos
ter uma noite
a toa

com a
minha
garota

na garoa fina
da madrugada
Bolero Bandido da madrugada 

ah se tu pudesses
fazer recair
outra vez
sobre mim
todo sono 
perdido

ah se tu pudesses
aplacar
até as placas
bacterianas

se outra vez fechasses as persianas
pro meu sono
ser melhor

se fizéssemos mais planos
para o próximo
verão

se tivéssemos tido um
filho, um jardim e um cachorro
ah se o condicional não
fosse assim tão tolo
e vão
um incidente a mais ou a menos
e morreremos
distraídos e mansos
voando em transe
no tapete mágico
do Aladim
em direção
ao Rio de Janeiro

sobrevoando as praias, os Leblons, os coqueiros
até que o bronze do sol
nos ombros deles
deixe o nosso humor
azul


quis o brilho tranquilo
do vaga-lume
que sabe
se iluminar

o viço sombrio
do
escorpião

a distração
da pomba

a fricção
do gato
quando assanha
suas garras
magras
felpudas
afiadas
pra rasgar
meu chão

Atendendes de call center

textura de velório,
tesão
a tv é uma
tesoura incisiva
sangue, pele
morta e
dois atropelamentos seguidos 
no mesmo 
cão
desligo

de nada, por nada, obrigada por tudo
a mãe natureza num roxo veludo...

pra dentro de mim não
vai
sua cabeça é uma sentença
imperativa
que bem poderia
ser
melhor

ser-ia cega,
não chegaria

atrasada

suas contas estariam arquivadas em pastas
divididas em
pagas e não pagas

e seus espirros devido ao ar condicionado sempre abaixo de zero seriam ocultados pelo sussurrar sinistro
das atendentes de call center
lobos esfaimados
quando o cadeado
do Ego
quebra

corujas argutas
quando a 
gruta
do ID é 
funda
nossos encontros
serão sempre 
como se fosse
ontem
somos o mesmo
em outrem
e não te vejo há séculos!

nossas fotografias
não existem mais
não sei nem
seu número

nossos encontros
sempre tão sérios,
tão pautados e tão lacônicos

a primeira vez que te perdi
foi por não lembrar seu
telefone
depois de tê-lo
apagado
há muito

a segunda vez foi durante nossos longos
silêncios
entrecortados
apenas
por brigas

a terceira vez,
foi num domingo
na sorveteria
da Avenida Mirassolândia

poema pavão

um poema cheio de pena
de pele
de tesão

um poema pavão
um poema
leve 
como uma alma penada
é mais válida
que uma alma
desalmada
escrava
da escravidão

uma pena que voa
que soa
como
algo
que não
se
esqueceu
ainda
uma pena não pode
ser uma sentença
definitiva

pode ser
arrependimento
apenas

porque amar
ao léu
é ir do
inferno
a um céu
duvidoso

porque a pena
não penetra
solidão
alguma
principalmente
em agosto
que não chegou ainda
mas promete
não ser
bom
se o dia não basta
inventarei a noite
o raciocínio lógico
e os jogos
de carta

se a vida não basta
inventar a arte

tampouco
tampará
a porta da nave
no vácuo espaço

a palavra não diz
o som não se
propaga

o que você não imagina
não existe
e não há porta
nem chave
que abra
o inimaginável
o impronunciável

e não há religião que aguente
minha mente
quando
quer e quando
sente

não basta ser sólido
há de ser
águia

e não há notícia que me comova
que se exploda que
nossas cabeças
pensem

ao invés de elegermos
decapitados
corpos
novamente
como
imperadores dos desejos
que deveriam ser
seus

Ray Manzarek



ah, sim,
o mundo é de fato um moinho...
mesmo que não sejam mesquinhos
vai destruir seus sonhos
e reduzir sua esperança
a pó

rapidamente, sem que os demais notem,
vai devorar seus ídolos
empoeirar seus livros
afastar sua voz

o mundo triturará com dentes ensanguentados
crianças, mulheres bonitas, velhos aleijados,
mães de família
cães miseráveis que pedem esmola nas esquinas e não são notados
e acabam sendo confundidos com
gente

mas no fim
(oh bela, oh rico, oh gordo empresário!)
que bem pode ser o seu princípio
seu meio
seu escorregadio
esconderijo,
alimentarás o verme
que habita vossas entranhas

Pois só o som das palavras não morrem...
quando percebeu
que o labirinto
de Creta
ao qual
se referiam os gregos
era sua natal Veneza

ou que bem 
poderia ser o mundo
ficou surdo-mudo,
ficou
absurdo até

mas a realidade é que o emaranhado de neurônios
que compunha seu raciocínio-realidade
era na verdade
simbolicamente
um sonho
no sono 
escondo
cansaço
e vontade
de dormir

no sono
sonso
da vida
eu duvido
de
mim

insosso
sou se sinto
sono
se sinto
dor
se ouso
sentir saudade
bem sei
que a veracidade
de meus argumentos
são chinfrins.
você não pode acelerar o tempo
mas pode acelerar seu carro
e você pensa que domou o espaço
até um buraco
te provar o contrário

&&&

eu só pedi
para ser normal

foi deus quem disse
amigo, nem a pau!

a minha fábrica
um dia dá defeito
e com efeito
serás tu eleito
a chacota
da noite
a piada
do pássaro
a viagem da doida
da estação
Paraíso

por isso
te curti no metrô
e conheci minha mina

num camelô

sou todo mundo
que não é você

não vejo futebol nem gosto
de tevê

sou estranho
e tenho até crachá
arrumei um nome
e um Orixá

e enquanto
você se assusta
vou assoviando
pela rua Augusta
bagunça tateante
cabeça de Medéia
com ideias
de Medusa

não me seduza
pois induzir
essa sua seda
sobre mim
tão cedo
se dissesse
sim
seria você
quem não
suportaria

e para provar
meteria o dedo
até o fundo
no pote de doce

meteria o colírio, o sinto
e você
em uma bolsa
valise
com uma etiqueta dizendo "fui à Tókio"
ou "valorize-se"
oh tu que me ins-pira
que bem podia ser droga
fissura
mas é só
a companhia
asmática
da noite dura
durante a madrugada.
nós, que gostamos do Seu Madruga, 
jamais recusamos um gole
um pito
um palpite
uma pitada de nada de vida
na estrada estreita
que a cartilha assina

sua rubrica dizendo ao diabo
aos diabos o que amo e penso e inclusive sou
se soo meio estranho
tacanho
e até covarde
desculpe-me majestade
senhor de minha
razão

mas não
hoje não tem show
nem explicação
nem palmas
nem alarde
hoje sou


eu mesmo
O cio do meu ciúme
o gemido pútrido e
impune

O cílio nos nossos dedos
para decidir
de quem será o desejo

quem saberá primeiro
praticar a indiferença?
Quanto tempo dura
a sua atadura, a sua armadura,
a sua taciturna onda de ódio?

Manifesto antropofágico
é pura magia
em tempos de guerra fria
nos aquecemos com bombas
de gás lacrimogênio
e balas de borracha

os coturnos, os cacetes,
não acredito em nada.

devolvo ao meu pacífico e acomodado ser
mais uma noite na calada
sem balada, sem televisão, sem protesto,
sem nada...
quero morrer lentamente, como a chama ausente de um fogo fátuo
quero flutuar entre lembranças cada vez mais vagas
me afogar em lágrimas 
e dar piruetas circenses quando ninguém estiver vendo
vou lhe oferecer o meu sorriso
um chiclete
um gole d´água
mas quero lhe dar algo muito além disso
quero que seja tua a minha doce morte
o meu doce de leite
os meus cigarros
o meu último gole.

A garota mais bonita da cidade

garota verão.
a garota mais inteligente da cidade. sagacidade.
só que a cidade, pobre garota, não é nem a metade
da metade da metade
da metade do mundo.
se parasse de se auto-admirar só por um segundo
sentiria um quê de compaixão
por si mesma
engoliria a soberba
com um copo de Martini.
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Tira esta blusa xadrez e esta bermuda esquisita
Esta barba que não conquista
Tira esse brilho molhado dos olhos
E este tom azedo de azul
Tira o suor viscoso da tua mão e os lábios que tanto quis mastigar...
Tira, e coloca em outro lugar!

Do teu corpo só me interessa o que é nu
Da carne o cru
Da alma o vazio deste teu espírito carniceiro 
sempre à espreita. espera estreita.
Retira de ti tudo que me não mais me agrada e não sobrará ninguém.

Abril chuvoso

Janeiro já passou
o nome do meu travesseiro
é pesadelo
nele agora me deito
com um lápis
a rabiscar verdades meias e mentiras inteiras

Jason
Freddy Krueger
Chuck
It
Hellraiser
Blair Witch
aracnofobia
exorcista e
enchente, quem salvará nossos filhos?

quem salvará os filhos que nunca tive?
quem salivará diante dos meus sanduíches?

meu travesseiro disse
que meus sonhos medonhos
são quadros tristonhos
da vida real

Janeiro passou e deixou seu cheiro
de desespero
e meu pesadelo diz
que não se pode ser feliz na sombra
da tristeza alheia

disse que o mal incomoda mas
que o bem machuca
a verdade nua e crua
é que você pensa que soma, mas tira
você pensa que falta,
mas sobra
você pensa que volta,
mas ia...



&&&

Tira esta blusa xadrez e esta bermuda esquisita
Esta barba que não conquista
Tira esse brilho molhado dos olhos
E este tom azedo de azul
Tira o suor viscoso da tua mão e os lábios que tanto quis mastigar...
Tira, e coloca em outro lugar!

Do teu corpo só me interessa o que é nu
Da carne o cru
Da alma o vazio deste teu espírito carniceiro 
sempre à espreita. espera estreita.
Retira de ti tudo que me não mais me agrada e não sobrará ninguém.