05 março 2013

poemas soltos




Qual é o nome do abismo em que resvalam os orgulhosos? 
Qual é o nome do buraco horrível em que se encerram os sonhos?
Qual é a música que embala o mórbido silêncio da tumba?

Quero fogo e chuva! E o leitoso deleite da lua
Quero lançar-me nua para receber meu próprio corpo 
que se descomponha
que se decomponha e, envolto à impermanência da rosa que murcha e renasce em outra rosa, que eu possa 
beijar os doces lábios de Shiva, dançar minha própria 
destruição...


&&&

Não resisto a uns bons olhos molhados 
ao coração que se aquece nessa facilidade toda. 
Não resisto ao seu corpo que treme e assume, 
a essa necessidade de revanche da pele. 
Não resisto a suas mãos que trêmulas conhecem 
os meus caminhos mais íntimos não resisto 
a sua língua, sequer ao cheiro de dentro da sua boca. 
Mas se fico louca, oca, insossa. Não resisto e quebro. 
Te perco, te perdoo e te esqueço, brasa fria, como um monte de sujeira em cima da pia do banheiro.

&&&

Empresta-me o que resta dessas tuas frestas que esqueces abertas
só para que pernilongos passem e venham te chupar, durante toda a noite, ao luar...

Na madrugada, alguém pergunta e não houve nada. Durante o dia, penduro os ponteiros de uma agonia 
asmática e  revejo fotos, roendo as unhas, roendo as horas
uns bons tragos já não me trazem nada...

apenas um pesadelo ou sonho ansiolítico me fazem dormir
ao longo de toda minha vida 
as mulheres bonitas, que jamais terei entre

riscos rabiscos e nada disso! que um elevador mecânico me leve ao cume de um engano cínico e esses seus cabelos cor de ferrugem fustigam-me

escrevo e freio quase esmagando a cabeça do gato
quase esmagando a cabeça no vácuo eu não vi e nem vejo 
o rastro do felino ferido na estrada, e sigo distraído pensando nos vestidos floridos que voam e no perfume de cada flor desabrochada que jamais sentirei...

segundo freud segundo por segundo...
desvio dos abismos mas sempre caio
no desabsurdo de mim...




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