27 agosto 2010

casa de campo

o tempo pára na espiga de milho
seca lá fora
o sol
amarelo morninho feito
mijo
de vaca
no pasto

um parto
de cadela no alpendre em plena
madrugada de sábado
eu abotoando
os brincos abrindo sorrisos
de falso
brilhante

emprestando lencinhos bordados
franceses pra você limpar esse teu nariz
escorrido não me devolver nunca
o gliter

te animo
te chamo
simples
como uma navalha
corto
ao vento
a água brilha e é tudo que eu tenho
que me disfarça
de mulher: a água meu ventre é água, sangue e vida
faço brotar uma bromélia
sai dos meus olhos
vermelhos para se esconder
em teu jardim líquido
como um pequeno príncípio
de intimidade o pó
entre meus cílios
que você assopra

meus lencinhos
úmidos os filhotes que a cadela come a placenta
e lambe as crias até
desmelecarem

o carro buzinha são quatro filhotinhos
orelhudos ganindo saimos apressadas
tropeço os saltos altos finos reparo
no teu vestidinho a falta de equilíbrio
é porque
sou puro amor
amniótico

a gente fala ri toma birita se pega
num olhar lésbeoesvesgado
e depois ficamos
paradas
sem nos falar
(durante dias)

teus cachinhos crescem os cachorros
se espalham pêlos rosnadinhas
pela casa ando
displicente
de calcinha te chamo
pro chuveiro

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