decompor teus sonhos em fibras
de fumaça
beber
teus suspiros com a minha boca
sussurar como se sangrasse
rezar profundamente
no templo do teu olhar
teu calor beato
de braços abertos
aceita,
Loréia, que sinta sono e frio e
enfim venha
me deitar
-tão quieto
em
ti
26 dezembro 2008
08 dezembro 2008
lua loba
recostada ao sofá observo uma fada entrar em minha janela em forma de maripousa junto a mim asas enormes, silente.
sinto junto dela amplidão vazia. passeia indiferente entre móveis que não me interessam mais mesmo fácil de se cativar como o beijo de um sapo a ignoro inclusive em seus rodopios multicolores. saco meus cigarros e da sacada do apartamento respiro amplidão de vento, entoxico-me malboramente light.
Devia ser outra? Devia ser Maria? Devia fazer Maria nascer em mim feito um ramo de extensões tão sólidas quando as plumas de um anjo a voar em direção aos que só quando estão longe me fazem falta... minha cabeça já fatigada desaba para o lado esquerdo e como um espectro cabelos muito negros de um lado rosto muito pálido torto e volátil fico ali esvoaçando na janela. Uivo.
e me calha trocar lençóis cheirar as roupas pelo chão um pecado de pele tudo solver com narinas bem abertas o peso dos seus ossos sobre meus ossos e suas mãos fortes de estraçalhar copos. quero bem fundo teus caninos cravados na gengiva devorando-me, Enigma.
Tinha ainda enorme noite lua lá fora. a luz penetrava a janela em licor oblíquo e branco no que compunha um filme noir com as espirais de fumaça dos muitos cigarros que acendia. a fada se desmaterializou de maripousa negra para sombra e, ainda assim, permaneci limpa de seios expostos um calafrio de fêmea percorrendo meu corpo.
prostrei-me em direção ao corredor estreito que dá para o tapetinho indicando o quarto, minhas mãos seguravam forte o sono antevia o verão delizando mole entre os vãos dos azuleijos.
E durmo até amanhã abraçada a mim, feito uma concha no mar e sonhos...
sinto junto dela amplidão vazia. passeia indiferente entre móveis que não me interessam mais mesmo fácil de se cativar como o beijo de um sapo a ignoro inclusive em seus rodopios multicolores. saco meus cigarros e da sacada do apartamento respiro amplidão de vento, entoxico-me malboramente light.
Devia ser outra? Devia ser Maria? Devia fazer Maria nascer em mim feito um ramo de extensões tão sólidas quando as plumas de um anjo a voar em direção aos que só quando estão longe me fazem falta... minha cabeça já fatigada desaba para o lado esquerdo e como um espectro cabelos muito negros de um lado rosto muito pálido torto e volátil fico ali esvoaçando na janela. Uivo.
e me calha trocar lençóis cheirar as roupas pelo chão um pecado de pele tudo solver com narinas bem abertas o peso dos seus ossos sobre meus ossos e suas mãos fortes de estraçalhar copos. quero bem fundo teus caninos cravados na gengiva devorando-me, Enigma.
Tinha ainda enorme noite lua lá fora. a luz penetrava a janela em licor oblíquo e branco no que compunha um filme noir com as espirais de fumaça dos muitos cigarros que acendia. a fada se desmaterializou de maripousa negra para sombra e, ainda assim, permaneci limpa de seios expostos um calafrio de fêmea percorrendo meu corpo.
prostrei-me em direção ao corredor estreito que dá para o tapetinho indicando o quarto, minhas mãos seguravam forte o sono antevia o verão delizando mole entre os vãos dos azuleijos.
E durmo até amanhã abraçada a mim, feito uma concha no mar e sonhos...
20 novembro 2008
Ângela se casa
Com mãos pacientes, tecia o vestido. No espelho de bolso, um rosto branco, amplo como a imensidão vasta do mar de Ângela. Suas idéias postas em ordem cronométrica. Namorado chega, marido vai embora, enquanto ele não vem vou tecendo minha aurora. Cozia legumes, passava à mão uma receita antiga para o caderno de capa preta para receitas.
O pão de batatas, somos felizes, os sinos badalam, os sinos badalam. Ouvia voz alta de susto chamando no portão, sabia. O amarelo-fuga no jato do liquidificador, girando seu suco e além do mais Mrs. Robinson tocando alto demais. A impressão sutil de que, ser feliz assim, na própria luminosidade da tarde, é demais e perigoso.
Enquanto isso, ele, caricatura do quase-semi-civilizado, nem melhor nem pior que vós, que eu, penetrava todas concavidades dela, porque a simples idéia de possuí-las é como a de plantá-las nas coisas, nos prazeres uterinos que deslizavam grávidos de trigêmeos prazeres.
Afinal, ele, de um intenso instinto sagitário, de um homem que se amanhece inesperadamente doce e de barbas feitas, algum amor nos bolsos, feito trocados, para alumiar o peito. Ignorava os perigo a espreita, ignorava os seios dela. E ia seu coração bombeando bobagens no fluxo dos seus passos pensamentos.
Então. Bateu ao portão de Angela.
Encontram-se. Seus seios arfam por baixo do vestido simples e uma abertura de botões intrínseca, a cena é dramática e em câmera lenta, ao fundo, Ângela, a música que mais te gritar. O amor. Os dois patéticos como eu. Altivos, orgulhosos e covardes ao mesmo tempo olham-me nos olhos e recuam. São meus os olhos e vêem um sorriso complacente e cansado no rosto de Ângela.
Mas se ainda são jovens e não possuem rugas, se ele a pede em casamente e seus rostos são riscos de desenho cravado em luz dos olhos, se não possuem o delicado horror de ruga que carrego cansado na força da minha expressão ao redor dos lábios, como um palhaço melancólico, cicatrizes antigas de espírito. Já que fui e sou exacerbado, romântico e ébrio empolando a fala, digo que verdadeiramente haverá Ângela de ser e saber o que é esperar que o tempo volte atrás e não seu marido.
Portanto, com paciência e cansadas rugas suas mãos cerzem o vestido puído de noiva. De repente, alguém que não reconheceria de modo algum a observa, no velho espelho de mão, o rosto descascado de sua folhagem em ouro, dos fulgores de antigamente. Consumida. Ela e seu tolo vestido eram ruínas afogadas na fogueira do ciúme, na redundância mesquinha das economias caseiras.
Enquanto isso ele, caricatura do quase-civilizado, gradualmente se esquecia de fazer a barba e do que ia mesmo dizendo e dos nomes de vinhos que sabia. Havia ruminado por tempo demais uma análise modorrenta do que era relevante em sua vida, em sua casa, em suas roupas, em seus amigos, em nos objetos que guardava revistas velhas, cigarros e assuntos chatos que, de repente, ao olhar para a tela em branco, deu-se conta de que não tinha mais nada a escrever.
Que de novo só havia ele de novo sendo o mesmo sempre e outra vez. E lhe vieram rugas, claro, vertigens e sobretudo, a solidão. Vivia vingativamente satisfeito por ainda estar vivo. E era feliz. Engordava. Cresciam bigodes, pensava até adotar um gato.
A mulher, no entanto, ainda estava lá. Translúcida.
Ângela andava ainda na ponta dos pés, costume de menina. Amargurou-se. Para no fim, esquecer-se mesmo das coisas, na justa medida em que as quisesse lembrar. O dia, por exemplo, o liquidificador, quem fim havia?
Varria mãos automáticas a cozinha a cabeça ia vazia então, numa espécie relâmpago, lembrou-se das tardes afinal felizes de mãos dadas rumo ao horizonte amplo e pleno do futuro, de uma só vez num clarão de saudade misturada a saliva azeda e todo tipo de coisa, lembrou-se do quanto era grata, o quanto a vida prometera e ela e a sua juventude de bochechas rosas. Arrogante. Amável animal de longos ânimos e cabelos compridos. De pés muito firmes no chão. Dona-de-casa, afinal, uma mulher bonita.
Mas ele, ela, eu, somos o desequilíbrio da matéria e nos degeneramos no tempo. O que lhe deu foi que quis ir ter com ele imediatamente e sorrir. Depois de tantos anos de costume: dizer-lhe. Antes que se adiantesse o baque seco veio da sala vazou a vassoura de suas mãos e tombaou plácida.
Lá estava ele, um corpo tombado irremediavelmente bêbado asfixiando no chão, uma veia saliente pulsa acelerada no pescoço vermelho. Pára. Paralisada pelo súbito e fulminante. Olha, sem saber para que lado correr, se devia correr, se devia primeiro recolher o lixo da cozinha.
O pão de batatas, somos felizes, os sinos badalam, os sinos badalam. Ouvia voz alta de susto chamando no portão, sabia. O amarelo-fuga no jato do liquidificador, girando seu suco e além do mais Mrs. Robinson tocando alto demais. A impressão sutil de que, ser feliz assim, na própria luminosidade da tarde, é demais e perigoso.
Enquanto isso, ele, caricatura do quase-semi-civilizado, nem melhor nem pior que vós, que eu, penetrava todas concavidades dela, porque a simples idéia de possuí-las é como a de plantá-las nas coisas, nos prazeres uterinos que deslizavam grávidos de trigêmeos prazeres.
Afinal, ele, de um intenso instinto sagitário, de um homem que se amanhece inesperadamente doce e de barbas feitas, algum amor nos bolsos, feito trocados, para alumiar o peito. Ignorava os perigo a espreita, ignorava os seios dela. E ia seu coração bombeando bobagens no fluxo dos seus passos pensamentos.
Então. Bateu ao portão de Angela.
Encontram-se. Seus seios arfam por baixo do vestido simples e uma abertura de botões intrínseca, a cena é dramática e em câmera lenta, ao fundo, Ângela, a música que mais te gritar. O amor. Os dois patéticos como eu. Altivos, orgulhosos e covardes ao mesmo tempo olham-me nos olhos e recuam. São meus os olhos e vêem um sorriso complacente e cansado no rosto de Ângela.
Mas se ainda são jovens e não possuem rugas, se ele a pede em casamente e seus rostos são riscos de desenho cravado em luz dos olhos, se não possuem o delicado horror de ruga que carrego cansado na força da minha expressão ao redor dos lábios, como um palhaço melancólico, cicatrizes antigas de espírito. Já que fui e sou exacerbado, romântico e ébrio empolando a fala, digo que verdadeiramente haverá Ângela de ser e saber o que é esperar que o tempo volte atrás e não seu marido.
Portanto, com paciência e cansadas rugas suas mãos cerzem o vestido puído de noiva. De repente, alguém que não reconheceria de modo algum a observa, no velho espelho de mão, o rosto descascado de sua folhagem em ouro, dos fulgores de antigamente. Consumida. Ela e seu tolo vestido eram ruínas afogadas na fogueira do ciúme, na redundância mesquinha das economias caseiras.
Enquanto isso ele, caricatura do quase-civilizado, gradualmente se esquecia de fazer a barba e do que ia mesmo dizendo e dos nomes de vinhos que sabia. Havia ruminado por tempo demais uma análise modorrenta do que era relevante em sua vida, em sua casa, em suas roupas, em seus amigos, em nos objetos que guardava revistas velhas, cigarros e assuntos chatos que, de repente, ao olhar para a tela em branco, deu-se conta de que não tinha mais nada a escrever.
Que de novo só havia ele de novo sendo o mesmo sempre e outra vez. E lhe vieram rugas, claro, vertigens e sobretudo, a solidão. Vivia vingativamente satisfeito por ainda estar vivo. E era feliz. Engordava. Cresciam bigodes, pensava até adotar um gato.
A mulher, no entanto, ainda estava lá. Translúcida.
Ângela andava ainda na ponta dos pés, costume de menina. Amargurou-se. Para no fim, esquecer-se mesmo das coisas, na justa medida em que as quisesse lembrar. O dia, por exemplo, o liquidificador, quem fim havia?
Varria mãos automáticas a cozinha a cabeça ia vazia então, numa espécie relâmpago, lembrou-se das tardes afinal felizes de mãos dadas rumo ao horizonte amplo e pleno do futuro, de uma só vez num clarão de saudade misturada a saliva azeda e todo tipo de coisa, lembrou-se do quanto era grata, o quanto a vida prometera e ela e a sua juventude de bochechas rosas. Arrogante. Amável animal de longos ânimos e cabelos compridos. De pés muito firmes no chão. Dona-de-casa, afinal, uma mulher bonita.
Mas ele, ela, eu, somos o desequilíbrio da matéria e nos degeneramos no tempo. O que lhe deu foi que quis ir ter com ele imediatamente e sorrir. Depois de tantos anos de costume: dizer-lhe. Antes que se adiantesse o baque seco veio da sala vazou a vassoura de suas mãos e tombaou plácida.
Lá estava ele, um corpo tombado irremediavelmente bêbado asfixiando no chão, uma veia saliente pulsa acelerada no pescoço vermelho. Pára. Paralisada pelo súbito e fulminante. Olha, sem saber para que lado correr, se devia correr, se devia primeiro recolher o lixo da cozinha.
16 abril 2008
Porque Madame Bovary se apaixonou por Dorian Gray
Vem fugir comigo, vem...
Se aquecer no frio, oh, meu bem.
cena de filme antigo,
vinho tinto.
comer fondue se confundir comigo:
misturar as escovas de dente...
sentir tua coxa quente no meu ventre,
vem...
fugir do frio, com canela
sorriso de sol na janela
cheiro de orvalho verde no teu dente
de neve gelada
o teu cabelo solto
na sacada
e partirás comigo...
café com creme
cigarros sem filtro meus dedos tremem...
quero beber você
moça de leite na lata
e cavalgar a vida:
vem, vem, vem...
Se aquecer no frio, oh, meu bem.
cena de filme antigo,
vinho tinto.
comer fondue se confundir comigo:
misturar as escovas de dente...
sentir tua coxa quente no meu ventre,
vem...
fugir do frio, com canela
sorriso de sol na janela
cheiro de orvalho verde no teu dente
de neve gelada
o teu cabelo solto
na sacada
e partirás comigo...
café com creme
cigarros sem filtro meus dedos tremem...
quero beber você
moça de leite na lata
e cavalgar a vida:
vem, vem, vem...
23 março 2008
Inventário tardio de Sua Majestade
A gente tem é que fazer o que quer.
Sentir as cinzas sendo varridas para debaixo do tapete
Disfarçar os burburinhos de alegria, englobá-los no desespero
Azul-preguiça
Para ressurgir pétala, a mais,
desfolhada no fundo do campo.
Sentir as cinzas sendo varridas para debaixo do tapete
Disfarçar os burburinhos de alegria, englobá-los no desespero
Azul-preguiça
Para ressurgir pétala, a mais,
desfolhada no fundo do campo.
18 março 2008
Venezianas
e quando tremes
febril abro
um frescor de fresta
na janela para
respirar aliviado
de congestões
nesses teus olhos
azuis pior sou eu
que daqui só
vejo cenas
urbanas
de chuva ácida e
crianças
descalças
na calçada garimpando
o peculiar diamante
das asas de aleluias
mortas
do cerol
das pipas
de papel
rasgando
gargantas
as venezianas fechadas
impedem o frio
para sarar tua febre
de apendicite
febril abro
um frescor de fresta
na janela para
respirar aliviado
de congestões
nesses teus olhos
azuis pior sou eu
que daqui só
vejo cenas
urbanas
de chuva ácida e
crianças
descalças
na calçada garimpando
o peculiar diamante
das asas de aleluias
mortas
do cerol
das pipas
de papel
rasgando
gargantas
as venezianas fechadas
impedem o frio
para sarar tua febre
de apendicite
11 fevereiro 2008
A mãe dela
Sentou no descampado para decidir, foi se lembrando, bem devagar.
Precisava do dinheiro, necessidade pegajosa que ia com ele no entanto tudo já havia sido dito desde a hora sem sono do café seu estomago revirava em ondas de calafrio.
Fazia calor. O senhor tem conta em Banco? Sentia-se num nevoeiro cinzento cheio de correntes antigas que não se rompiam. É registrado em carteira? Ao longe, havia a menina que amava a certeza de que o mundo não era um lugar bom de se viver sempre cheio de animais selvagens perguntando, mas sem vínculo empregatício? declara imposto de renda? Sorrindo e dizendo que os juros eram de quinze por cento ao mês -para os aposentados.
Obrigado. Talvez um avalista, ou se o senhor conhecer um aposentado... Então, antes de conseguir o dinheiro, iria tomar com gole de água plástica nos copinhos descartáveis que a moça do balcão que o olhava com desprezo serviu água quente e sebosa da torneira mesmo, entregou feito esmola. Ele bebeu e pediu mais.
Depois disso, grandiosa grandiosa.
Ainda precisava do dinheiro, sim, para o aborto. Para eliminar seu próprio filho e alimentar as flâmulas bruxuleantes de sonhos egoístas como a viagem a europa, como o corpo dela bonito.
Respirava o ar carregado da cidade -e o mundo não parecia um lugar bonito.
Trabalha com cheque? O último raio de sol batia bem no rosto dela enquanto chupava distraída a pazinha de sorvete pendurada na boca. Não fossem os olhos tristes, era tão linda. A humilhação de não conseguir sequer cometer um crime. Imaginou-a quem sabe atropelada, perdendo o filho. Ou suas mãos, durante a noite, na sua garganta mantinham a expectativa centrada: sorrir ou odiá-la?
Não conseguiu. No entanto, o dinheiro você é tão...incompetente. Eu, eu sinto...que a culpa é sua e se quer sorvete, vá comprar. Seria diferente se aprovassem seu crédito, ela estaria sorrindo, receberia qeum sabe até anestesia mas ele não tinha crédito nenhum com aquela gente e pretendiam mesmo dar um golpe ulterino nas financeiras carnicentas do centro da cidade.
Um dia, bem longe da loja de bebês tomariam sorvete juntos e voltariam de mãos dadas rumo ao fim da lembrança sequer do aglomerado nevrálgico de células proliferando-se às custas do tutano dos seus ossos. Iriam decididos à clínica, seria dolorosamente amoral. O último raio de sol apagou-se finalmente e seu rosto celebrava a morte da inocência. Odiavam-se. E o germe daquele ódio crescia a cada mes, a cada semana a cada segundo dentro dela.
Quando se levantou, estava decidida.
Naquela mesma tarde, fez amor com o ginecologista porco que descobriu através da amiga e de olhos fechados fez que teve um orgasmo então, respirando fundo, preparou seu corpo para o novo estupro de pinças metálicas e aspiradores de carne.
De noite com dores inacreditáves se atirava ao chão feito um bicho se contorcia seus uivos foram silenciados pelo triunfo da modéstia para que os pais não ouvissem. Um corpo pelo outro, e a dor de arrancar alguém de dentro. Estavam quites.
Precisava do dinheiro, necessidade pegajosa que ia com ele no entanto tudo já havia sido dito desde a hora sem sono do café seu estomago revirava em ondas de calafrio.
Fazia calor. O senhor tem conta em Banco? Sentia-se num nevoeiro cinzento cheio de correntes antigas que não se rompiam. É registrado em carteira? Ao longe, havia a menina que amava a certeza de que o mundo não era um lugar bom de se viver sempre cheio de animais selvagens perguntando, mas sem vínculo empregatício? declara imposto de renda? Sorrindo e dizendo que os juros eram de quinze por cento ao mês -para os aposentados.
Obrigado. Talvez um avalista, ou se o senhor conhecer um aposentado... Então, antes de conseguir o dinheiro, iria tomar com gole de água plástica nos copinhos descartáveis que a moça do balcão que o olhava com desprezo serviu água quente e sebosa da torneira mesmo, entregou feito esmola. Ele bebeu e pediu mais.
Depois disso, grandiosa grandiosa.
Ainda precisava do dinheiro, sim, para o aborto. Para eliminar seu próprio filho e alimentar as flâmulas bruxuleantes de sonhos egoístas como a viagem a europa, como o corpo dela bonito.
Respirava o ar carregado da cidade -e o mundo não parecia um lugar bonito.
Trabalha com cheque? O último raio de sol batia bem no rosto dela enquanto chupava distraída a pazinha de sorvete pendurada na boca. Não fossem os olhos tristes, era tão linda. A humilhação de não conseguir sequer cometer um crime. Imaginou-a quem sabe atropelada, perdendo o filho. Ou suas mãos, durante a noite, na sua garganta mantinham a expectativa centrada: sorrir ou odiá-la?
Não conseguiu. No entanto, o dinheiro você é tão...incompetente. Eu, eu sinto...que a culpa é sua e se quer sorvete, vá comprar. Seria diferente se aprovassem seu crédito, ela estaria sorrindo, receberia qeum sabe até anestesia mas ele não tinha crédito nenhum com aquela gente e pretendiam mesmo dar um golpe ulterino nas financeiras carnicentas do centro da cidade.
Um dia, bem longe da loja de bebês tomariam sorvete juntos e voltariam de mãos dadas rumo ao fim da lembrança sequer do aglomerado nevrálgico de células proliferando-se às custas do tutano dos seus ossos. Iriam decididos à clínica, seria dolorosamente amoral. O último raio de sol apagou-se finalmente e seu rosto celebrava a morte da inocência. Odiavam-se. E o germe daquele ódio crescia a cada mes, a cada semana a cada segundo dentro dela.
Quando se levantou, estava decidida.
Naquela mesma tarde, fez amor com o ginecologista porco que descobriu através da amiga e de olhos fechados fez que teve um orgasmo então, respirando fundo, preparou seu corpo para o novo estupro de pinças metálicas e aspiradores de carne.
De noite com dores inacreditáves se atirava ao chão feito um bicho se contorcia seus uivos foram silenciados pelo triunfo da modéstia para que os pais não ouvissem. Um corpo pelo outro, e a dor de arrancar alguém de dentro. Estavam quites.
09 fevereiro 2008
Canceriano Selvagem
A chuva estava lá. Não podiam negar e era desculpa perfeita para seu confinamento obsequioso no quarto.
Interrompendo voluptuosamente os próprios raciocínios, um após o outro, os olhos de olho na janela chovendo enquanto os pés gelados o fazia espirrar...
Sentia-se rasurado como se o que vissem dele não viesse de lugar algum. Era uma pele descascada, repetindo-se fielmente, durante seus êxtases cotidianos:
A banal asa do inseto e seus prismas em mosaicos de cores translúcidas.
Os mosquitos picam violentos, aliás, em tempos de chuva, tudo era um horror de jornal dissolvido na poça da porta...
Porque a cada pontada do ponteiro era impossível não esfregar as unhas nas costas, cravá-las fundo na carne. Mas havia a preguiça até de coçar-se.
O telefone tocando além do sopro de blues do seu quarto era como se gritos antigos chamassem seu nome no tom horrendo de sua mãe. Interrompe-se.
São pequenos os insetos. E picam doído e, então, os esmaga com imenso prazer a prova do crime era uma mancha de sangue seco com patinhas mínimas desenhadas na parede.
Mesmo que os gritos não sejam reais, e que não tenha telefone, sua alegria já se foi e o rádio agora só faz barulho, um grunhido fora do ar.
Até que uma voz completamente nova, Janis, talvez a voz dela, ríspida e rouca, arremesse seus ouvidos numa chuva de violinos. E, quando ela gritasse sua dor, um arroubo que o levaria exatamente onde deseja, e aos outros também, criando um ponto comum no qual todos juntos nos recantos das verdades individuais se compreendam.
Nada há nada mais em comum que a dor.
E assim, aos poucos, o tempo vai passando pela janela do trem, em tecnicolor suas fotos ainda são de papel? Você, que pode mostrar ao mundo sua cara mais descaradamente sua. E original de série. E essa bobagem toda que agora decidiu, é bobagem. E até suas sutis indelicadezas, serão perdoadas.
Dance. Dance. Dance. Putz. Putz. Putz. Ou somos simplesmente diferentes?
As flores pendiam sobre o peso das gotas em suas peles. E o mundo borrado de branco e miopia como se do céu derramassem leite. No muro, gotas respingavam sobre o musgo verde encharcado e frio.
Seus dedos esfregavam distraídos o isqueiro, rolando a pedra, fazendo uma chama dançante de fogo. Buscou com calma o maço de cigarros que sempre estariam lá, nos dias em que ninguém mais estaria.
Fumou com prazer lentamente. E depois, o prazer passou.
Interrompendo voluptuosamente os próprios raciocínios, um após o outro, os olhos de olho na janela chovendo enquanto os pés gelados o fazia espirrar...
Sentia-se rasurado como se o que vissem dele não viesse de lugar algum. Era uma pele descascada, repetindo-se fielmente, durante seus êxtases cotidianos:
A banal asa do inseto e seus prismas em mosaicos de cores translúcidas.
Os mosquitos picam violentos, aliás, em tempos de chuva, tudo era um horror de jornal dissolvido na poça da porta...
Porque a cada pontada do ponteiro era impossível não esfregar as unhas nas costas, cravá-las fundo na carne. Mas havia a preguiça até de coçar-se.
O telefone tocando além do sopro de blues do seu quarto era como se gritos antigos chamassem seu nome no tom horrendo de sua mãe. Interrompe-se.
São pequenos os insetos. E picam doído e, então, os esmaga com imenso prazer a prova do crime era uma mancha de sangue seco com patinhas mínimas desenhadas na parede.
Mesmo que os gritos não sejam reais, e que não tenha telefone, sua alegria já se foi e o rádio agora só faz barulho, um grunhido fora do ar.
Até que uma voz completamente nova, Janis, talvez a voz dela, ríspida e rouca, arremesse seus ouvidos numa chuva de violinos. E, quando ela gritasse sua dor, um arroubo que o levaria exatamente onde deseja, e aos outros também, criando um ponto comum no qual todos juntos nos recantos das verdades individuais se compreendam.
Nada há nada mais em comum que a dor.
E assim, aos poucos, o tempo vai passando pela janela do trem, em tecnicolor suas fotos ainda são de papel? Você, que pode mostrar ao mundo sua cara mais descaradamente sua. E original de série. E essa bobagem toda que agora decidiu, é bobagem. E até suas sutis indelicadezas, serão perdoadas.
Dance. Dance. Dance. Putz. Putz. Putz. Ou somos simplesmente diferentes?
As flores pendiam sobre o peso das gotas em suas peles. E o mundo borrado de branco e miopia como se do céu derramassem leite. No muro, gotas respingavam sobre o musgo verde encharcado e frio.
Seus dedos esfregavam distraídos o isqueiro, rolando a pedra, fazendo uma chama dançante de fogo. Buscou com calma o maço de cigarros que sempre estariam lá, nos dias em que ninguém mais estaria.
Fumou com prazer lentamente. E depois, o prazer passou.
10 janeiro 2008
alpendre burguês
Ligia está trancada
no banheiro
quadrado
o retrato do pai
empoeirando
na casa vazia
de tarde um copo gelado
de leite ela
cola peças
de louça
com durepox
baixa
as cortinas
sóbrias cobrem
a janela juntam nos cantos
ácaros no nariz de Lígia
na poltrona
o gato se enrosca nas pernas
brancas que nunca conseguem
chegar
a um quarto
de onde
queria
no banheiro
quadrado
o retrato do pai
empoeirando
na casa vazia
de tarde um copo gelado
de leite ela
cola peças
de louça
com durepox
baixa
as cortinas
sóbrias cobrem
a janela juntam nos cantos
ácaros no nariz de Lígia
na poltrona
o gato se enrosca nas pernas
brancas que nunca conseguem
chegar
a um quarto
de onde
queria
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