20 agosto 2009

Bêbadas

Destilados
estão
os que me
revogam
dirão
acabando
com a minha
cabeça pensa
mais que passa
pesada
por isso
eu assobio
sobre nada

campestre

Uma abelha voa em direção

ao azul do olho de Suely

a estrada leva

seu vestido leve

para outras ramagens



Imagem lívida: os

cabelos vermelhos

de Lívia

esparramados

na neve


Susana amassa a maçã
entre os dentes

pálida
aperta a polpa
de
tomate
com os dedos

resiste
trêmula a
faca afiada
quer cortar
a pele do
kiwi
e seus
pelos para
verde-dentro
sementes pretas
lembram um
desenho
maia


Mariana

Atirou-se ao mar

De Iemanjá

E as pérolas
do seu colar

Enfeitam agora
outra Ana

19 agosto 2009

Casa de boneca

Que triste
sempre
esperar
por ele
acordada os
pés
vão sozinhos
para dentro
do cheiro da boca
dele traz
potenciais
delicias
abertas
as janelas
observam
Cintia apertar
o vidro
de xampu
entre as pernas
a espuma tem
cremosidades
espessas...

o que move aos domingos
as horas mortas no relógio:
expectativa
de um roçar que seja
de peles
um beijo
verdadeiramente
de língua

17 agosto 2009

Dez de Copas

fazem planos
muralhas que
servem
à Coroa
de outros

diamantes brutos
encrustados
nos músculos
das
mãos que
disparam
EM direção
ao cerne do
capital vital
da tua veia

vai
do cérebro
ao coração
e então
pára...

devastagem

dentro das minhas pupilas
longe e ao redor de tudo
observo
poeira e fogo
o futuro
ao longe o cheiro de guerra
traz
prováveis
invasores
ao pôr-do-sol
contra as nuvens
bem alto
o abutre
figura nobre
farejando
o vento
leva
o aroma
ácido
das tripas
que os alimentam

Infanta Joaquina

Quando crescer
serei contigo
árvore
para
encaixotar fatos
nos olhos
deixar estar
certas cousas
como fiapos
de carne
nos dentes
doces
como esperar
teu beijo
na boca
de bala
molhada
meu secreto-íntimo
era de te pegar no colo
cheirar teus cabelos
úmidos
enquanto
fala de
Belle&Sebastian...

Desculpa

O dia que não me estiver
mais acessível
sequer em remorsos
o que terá sido então
essa distância
toda?
Que signficará
orgulho
tomado
em silêncio
quando
tiver
duzentos
anos?
Quando descer
o Manto
de nossa senhora
sobre nós?

16 agosto 2009

Curtas

I

hoje é a noite do perdão
podes desatar os nós
dos sapatos
da garganta
um ruído
rouco
pede stop
e mais um gole
de chá

II

palavras afiadas
ferem âmagos
todo prata
o vestido
reluz
uma coloração
plácida
ela bebe
champagne
em taça
de apanhar
burburinhos
no salão

III

a vizinha ouviu e fez que trouxe
pão para distrair a fome
de novidades a moça de leite
condessada
a beira da janela espera
a flor da sua vida
desabrochar ou virar fruto

o menino apanha goiaba e corre...

IV

bem depressa a rua
passa
por cima
atropelando a
idéia
que tinha
na ponta da língua

V

preciso arrumar meio
de apagar
o desejo
de meter as mãos
em teus
sinais de sim


VI

quero mais
teu corpo
caindo
sobre
o meu
duro
frio
e morto...


VII


a tarde chega
passo um café
um padre
passa
um filme na sorveteria
a menina pede casquinha de Elves Presley
e vai chupar duas bolas de coco
na praça Hollywood

VIII

Racismo:

um negro é atropelado
ao mesmo tempo em que um cão
cego treme de frio
na ásia

IX

aleatórias borboletas
pousam
amarelas
no cheiro
do pescoço
dela
entre
as lápides
da familia

15 agosto 2009

get me away from here I´m dying

Não se preocupe, doce namorada
ele só me procura quando
seus olhos vazios
permanecem sempre
insatisfeitos.

se acaso me encontrasse
num sorriso ou sorvete
já não haveria encanto
seria triste e igualmente
distante
como agora
é contigo

...

no quadro
sobre sua cabeça
ramalhete de elbas
nas alvoradas
púrpuras
nas texturas
de paredes
lisas as letras
que se desenham
no cheiro
do teu copo
de leite
um homem
que peca

...

longe da delicadeza triste com que seu olhar
amirava os vastos vales
de sua própria solidão
eu de túnica preta
e flores brancas
nas mãos
suavemente quieta
de aflições
ao seu lado feito
um pequeno pássaro cativo
enchendo silenciosa
as narinas de ar
rulhando um canto
triste

...

calçou sapatos
que não serviam
tentou
telefonar
se perdia
a toalha
os dedos trêmulos
de costas
para o mar
chora
como se o sol
não tivesse mais
onde se pôr.

11 agosto 2009

do perigo de compartilhar talheres

olhando daqui
nunca vi mãos tão belas
tecido, diamente, ouro
puro nada se compara a ela
alvas planícies em
labirínticas cadeias
venosas
o altivo semblante
um pouco
pálido
um pouco
tísico
os olhos
de obituário

olhando daqui...
por mais que seja rica
carrega uma rara
solidão que ninguém jamais
se arrisca achegar-se a ela

olhando daqui
debruçada na torre
de trovão sobre a noite que não vive
suspira
seu marfim
a mais sublime
tão cândida
flor
a qual
nenhum
mortal ousou

De óculos escuros
a de lábios virgens
desdenhados de batom
afoitos ardores
esperam...
o ouro que a fulaninha
da esquina
já regalou...

08 agosto 2009

Baño de aceite para enternecer la piel

Deitou-se na grama umectada
sob a árvore
and whispered:

Be quiet dog
feel the wind…
feel the sun…
feel the sound
of the ground
when the grass
it´s growing green up

praque tal espetá
culo se já vivi mil vidas
repensando o peso
de los
equívocos
de siempre?

Se já fui árvore
Dog
Hoje
Spirit
The Same
Pain
Evoé

O que faço aqui
então
fatigado
vivendo os mesmos
uns uns uns
Os mesmos
Ohs!


Parce-que la vérité ne peut être vrai à travers les mots
lês mots sont l´ilusion
et tout que ce que nous pouvons dire à travers eux
c´est uniquement
arbitraire.

Por que não viro luz?
Why am I just
here
very concern about
mysel
fish in the water?

What about fly away?
What about die and born again and
over again and
I can´t forget...

07 agosto 2009

Apelo ao Jacarandá

à sombra da vida sinto que
o beijo morno da luz
não será
meu nem pleno apesar
da força das minhas veias
da força da minha saliva
que só meu fosse e seria
ainda maior o espasmo de crescer até tocar os céus com minhas pálpebras roçar as tenras nuvens]

queria a exuberância
das cores
ao toque
delipetalado
das patas
dos insetos
sobre as minhas flores
explícitas

O Cão

o cão observa
de soslaio
que olhos tristes...

o espelho encara a face
de vidro
em riste

a pia pinga desvairada
gotas frias
de orvalho

no ponto em que estamos
no inverno
que não passa
passaria pássaro
consciente como luz
mas onde andará
a andorinha?