26 junho 2013

Pavana para uma infanta defunta



esquálida orquídea 
nasceu do estrume
das tuas feridas

frágil pétala
murcha e esquecida
nas página de um livro
velho, sem capa,
sem redondilhas

mãos serenas,
vestido vermelho sangue,
rodopia a pequena
no baile macabro e exangue
de máscaras melancólicas e
incensos

o abutre
alvitra
te cuida...
te cuida...
da tua carne tenra comerei
a mim e aos vermes
terás ainda de agradecer
pois este pequeno invólucro que cai
é a nutrição que nos levanta
e nós te faremos santa
na finitude do teu
ser

levanta-te
pois
e dança!
dança, pequena,
de mãozinhas dadas
com o anjo negro ca túnica
o teu vestido vermelho
brilha

que toda noite é a última

que todo dia é dia de morrer...

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