15 maio 2013

Do cansaço

incrível como caço e acho
o que não preciso
quando o ninho
está desfeito
quando o que faço
se perde entre o
meio
e o 
início
incrível como os lábios rachados
suportaram saliva em excesso
e a língua inquieta

e o sono que vem sempre
cedo ou tarde demais
incrível como todos
exceto
ele
ficaram sem graça,
sem uma cor definida
e
a festa
inclusive
prestes a acabar
a
sua cerveja
jaz quente
e
sente
uma pressão lateral
daquela ideia
idiota
de que a noite valeria de fato
alguma coisa
e de que a vida passaria deliciosa e
lentamente
como uma língua sagaz
entre os
dentes

de que afinal seu copo
plástico
esperaria por você
a noite toda
seus amigos
lhe dariam
carona e você
dormiria no banco de trás
e desceria
no ponto
em frente à sua casa

e
que seu teco
duraria a noite
inteira
de que havia,
inclusive,
mais grana na sua carteira
e até um inteira
pro gás
do
corre

08 maio 2013

Contos de fardas

Estupro de baioneta, é invasão de privacidade?



Poema Verdadeiro



Sinto muito se lhe abandonei
sem terminar o que começamos.
Acreditei em suas ilusões
e fui viver a vida sem ti.
Então, depois de tempos,
percebi que havia lhe deixado pela metade,
e eu mesmo, precisava de você comigo naquele instante,
ponta.


de Lucas Nunes

Poesia crônica V

Arrisco um risco
nas costas
desse gato arisco

nós que ousamos
sentir saudade
mandar mensagem
e fazer planos

sujeitos estamos
às negras nuvens da indiferença
que molhem que olhem
por seus filhos estúpidos...

arriscar uma carícia neste gato arisco
que te acompanha
pelo petisco
mas que não te deixa
brecha para afagos
humanos
tão desnecessários e estranhos
afagos de carência e fé
o gato desvia-se felpudo e esguio
do dedo invasivo
dos carinhos que só a um cão
interessariam...

A vida por um instante

a vida não vai 
a lugar 
algum sem você
a vida é uma via de mão única
que
leva 
à morte. 

o caminho
por vezes tem mel
por vezes
mesquinho
por vezes cruel
por vezes
fascínio
e vai
invariavelmente
à pulverização de nossas carcaças
exageradamente apegadas a bens sentimentais de toda sorte

a vida é clara como a luz dos olhos meus
na luz dos olhos
teus

lembro-me de vidas que não vivi.
todas cabem em uma única ferida cinza
no centro do âmago

lembro-me do ladrilho, do cheiro de calma
no macio das toalhas 

do varal
do arroz cozido
do frango, do gato, do periquito

o cheiro das rúculas quando nascem
o cheiro amarelo das margaridas
quando estão
apaixonadas...

E tanto lembrar
não vale nada
quando a cabeça bate na calçada
e apaga
onde, onde estava
a lembrança
daquele cadáver?


&&&


por um instante se perde a chance,
o lápis, o táxi, o trem.

sempre em um instante antes
você tinha,
agora não tem

sem aviso, ordinário e
banal
o instante fatal
pode ser qualquer a
qualquer
momento...
1

Outono

o monge
mora lá longe
não vão rolar
pedras
em sua ribanceira
não vai rolar nem
colar lá

já o índio
mora pertinho
a gente chega
de
canoa
e fica de
boa
na lagoa

o outro
(amigo)
mora aqui dentro
ele dá socos
e perdidos
na consciência

chuta empurra, arrebenta
os fios invisíveis
de um neurônio
ao outro



&&&


copos dispostos em oposto
boca.olho.olho.boca
pernas aflitas
dedos seguram
o imaginário

dentes arreganhados
suor ácido na
virilha

assim
nós humanos
nos preparamos
para treparmos


&&&

dois pacotes sórdidos
sortidos, de edição limitada

dois alvéolos feridos
de tanto pó e cigarro

dois bicos calados
não se beijam

uma promoção de feriado:
"venha visitar
meu estado
alterado
de humor"

venha corroer as tardes
corrosivas
unhas que se aparam em alicates
de cutículas

moscas que anunciam
que o lixo deveria ser trocado
mas prefere chutar suas garrafas, suas embalagens vazias e colar os sapatos na cerveja 

derramada há dias

o que resta de toda noitada
a sujeira toda
a prova cabal de que
é boa a vida
e deixa rastros

rastros que serão moídos e devorados
na deterioração magnífica
do tempo


&&&

nosso. sexo. que não se sa tis faz
depois que acaba, 
quer mais.

&&&

acabou o conhaque
o amor e a amizade

acabou o maço de cigarros
a água da pia, a comida 
e o sabão de barra

acabaram os créditos
os cremes e
os doze trabalhos

acabou o respeito
o tráfego 

o beijo

acabaram os horários
os pacotes de bolacha
e os papéis não rabiscados

acabou a sensação cinza,
o ciúme e a raiva

acabou...

só restaram os bonus da tim e da claro
para os números que
não vou mais ligar...


&&&

A esquisita dos esquisitos
a dama dos 
perseguidos

a esquina dos bandidos
não era Geni nem gemido
era só como alguém que passou
por aqui
que esqueceu as chaves
no banheiro

alguém que espera
com mãos sujas
de terra
a chuva
aguar as hortelãs

ou ela em uma tentativa vã
de acender meus fósforos
úmidos


&&&

Caiu do prédio
e dizem 
que escorregou
no tédio
da tarde
às 16h20...


&&&

tão belo rosto
agora sem fôlego e sem cigarros,
prestes a sucumbir às trevas daquelas ruas sem iluminação pública adequada,
uma rajada de vento sopra a oeste trazendo pressentimentos tão obscuros quanto a vastidão de buracos da avenida da saudade

entre silenciosos cães esquálidos 

na madrugada,
tua imagem de
olhos esbugalhados

brilhando pro nada,
com o nariz coberto de sangue como hibiscos selvagesn

a sorrirem para o sol,
a tossir e torcer o lencinho
delicado com
mãos suando frio,
fez-me tremer os lábios
eu, que sequer sei
teu nome,
vejo-te passar tão magnífica vida
dentro de negros
olhos
enormes

poderia ter gritado por ajuda
poderia te acudir
mas a profunda beleza
desses girassóis amarelos dentro de você
me cala


&&&

Outono


devias conhecer os perigos
dos poros dilatados e
de mamilos que se arrepiam
aos mais inusitados
toques das plantas dos pés
ao pisar galhos e folhas
secas 
que fazem 
creck


&&&

Agora no deserto
de certo
um calango
um rato ou
uma cascavel
passeiam
com fome e sede
a céu
aberto.


02 maio 2013

Exquisite

A esquisita dos esquisitos
a dama dos 
aflitos

a esquina dos bandidos
não era Geni nem gemido
era só como alguém com pressa
que passou por aqui
e esqueceu as chaves
e os fósforos

no banheiro

alguém que espera

janeiro
com mãos sujas
de terra
e que a chuva
ague suas hortelãs

ou ela em uma tentativa vã
de acender meus fósforos
umidecidos...

Poesia Crônica V

Arrisco um risco
nas costas
desse gato arisco

nós que ousamos
sentir saudade
mandar mensagem
e fazer planos

sujeitos estamos
às negras nuvens da indiferença
que molhem que olhem
por seus filhos estúpidos...

arriscar uma carícia neste gato arisco
que te acompanha
pelo petisco
mas que não te deixa
brecha para afagos
humanos
tão desnecessários e estranhos
afagos de carência e fé
o gato desvia-se felpudo e esguio
do dedo invasivo
dos carinhos que só a um cão
interessariam...