08 maio 2013

Outono

o monge
mora lá longe
não vão rolar
pedras
em sua ribanceira
não vai rolar nem
colar lá

já o índio
mora pertinho
a gente chega
de
canoa
e fica de
boa
na lagoa

o outro
(amigo)
mora aqui dentro
ele dá socos
e perdidos
na consciência

chuta empurra, arrebenta
os fios invisíveis
de um neurônio
ao outro



&&&


copos dispostos em oposto
boca.olho.olho.boca
pernas aflitas
dedos seguram
o imaginário

dentes arreganhados
suor ácido na
virilha

assim
nós humanos
nos preparamos
para treparmos


&&&

dois pacotes sórdidos
sortidos, de edição limitada

dois alvéolos feridos
de tanto pó e cigarro

dois bicos calados
não se beijam

uma promoção de feriado:
"venha visitar
meu estado
alterado
de humor"

venha corroer as tardes
corrosivas
unhas que se aparam em alicates
de cutículas

moscas que anunciam
que o lixo deveria ser trocado
mas prefere chutar suas garrafas, suas embalagens vazias e colar os sapatos na cerveja 

derramada há dias

o que resta de toda noitada
a sujeira toda
a prova cabal de que
é boa a vida
e deixa rastros

rastros que serão moídos e devorados
na deterioração magnífica
do tempo


&&&

nosso. sexo. que não se sa tis faz
depois que acaba, 
quer mais.

&&&

acabou o conhaque
o amor e a amizade

acabou o maço de cigarros
a água da pia, a comida 
e o sabão de barra

acabaram os créditos
os cremes e
os doze trabalhos

acabou o respeito
o tráfego 

o beijo

acabaram os horários
os pacotes de bolacha
e os papéis não rabiscados

acabou a sensação cinza,
o ciúme e a raiva

acabou...

só restaram os bonus da tim e da claro
para os números que
não vou mais ligar...


&&&

A esquisita dos esquisitos
a dama dos 
perseguidos

a esquina dos bandidos
não era Geni nem gemido
era só como alguém que passou
por aqui
que esqueceu as chaves
no banheiro

alguém que espera
com mãos sujas
de terra
a chuva
aguar as hortelãs

ou ela em uma tentativa vã
de acender meus fósforos
úmidos


&&&

Caiu do prédio
e dizem 
que escorregou
no tédio
da tarde
às 16h20...


&&&

tão belo rosto
agora sem fôlego e sem cigarros,
prestes a sucumbir às trevas daquelas ruas sem iluminação pública adequada,
uma rajada de vento sopra a oeste trazendo pressentimentos tão obscuros quanto a vastidão de buracos da avenida da saudade

entre silenciosos cães esquálidos 

na madrugada,
tua imagem de
olhos esbugalhados

brilhando pro nada,
com o nariz coberto de sangue como hibiscos selvagesn

a sorrirem para o sol,
a tossir e torcer o lencinho
delicado com
mãos suando frio,
fez-me tremer os lábios
eu, que sequer sei
teu nome,
vejo-te passar tão magnífica vida
dentro de negros
olhos
enormes

poderia ter gritado por ajuda
poderia te acudir
mas a profunda beleza
desses girassóis amarelos dentro de você
me cala


&&&

Outono


devias conhecer os perigos
dos poros dilatados e
de mamilos que se arrepiam
aos mais inusitados
toques das plantas dos pés
ao pisar galhos e folhas
secas 
que fazem 
creck


&&&

Agora no deserto
de certo
um calango
um rato ou
uma cascavel
passeiam
com fome e sede
a céu
aberto.


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