30 abril 2013

Pinturas a óleo

E quando a tempestade invadiu a sala, rasgou cortinas, estraçalhou vidraças... Só me lembro da ausência da tua mão. Furacão engoliu meus pertences e teu rosto solene, jurava não. Agora, só outra vez venho me despedir. A falta que não sentes é a frieza que, entrementes, te fará implodir.

&&&

trilhas sonoras
trechos de
silencio
em um caminho
entre a neblina e 
aias áridas de saias 
compridas

telhas iluminadas
o sol na neve
copos que não tilintam
e a água
da pia
escorre 

gelada
em uma
trilha
sombria

no ralo
que vai para o
rio


&&&

Agora
no deserto
de certo
um calango
um rato ou
uma cascavel

passeiam
com fome e sede
a céu
aberto.


&&&

pés que pisam galhos


devias conhecer os perigos
dos poros que dilatados e
os mamilos que se arrepiam
aos mais inusitados
toques das plantas dos pés
ao pisar folhas
secas 
que fazem 
creck


&&&


beijar sua boca
e calar com a minha língua
o que dizias
e eu nem
prestava atenção...

acima de tudo
sabia
que um dia
enroscarias
tua mão a minha
sem
ardor
sem
dor
sem
devoção.


&&&

I

Doenças domésticas


pequenas unhas de aço finas
em torno da tua
garganta fria
dentro e fora
das curvas da tua língua
bolas de ranho foram
engolidas
num riso
estranho

o rosto
afogado borbulha
silente mas
os sons são muito altos dentro do crânio ecoam gigantescos
e assustadores sussurros e assoares de narizes...

minha cabeça dói, ela diz
que atrás do olho esquerdo se a luz penetra
diretamente em sua pupila
sente um espinho

sente sono
sede
sente que fede
cada dia
um pouco mais
resfriada, pútrida e 

pálida

II

tão belo rosto
agora sem fôlego e sem cigarros,
prestes a sucumbir às trevas daquelas ruas sem iluminação pública adequada,
uma rajada de vento sopra a oeste trazendo pressentimentos tão obscuros quanto a vastidão de crateras desta  avenida da saudade

entre silenciosos cães esquálidos da madrugada,
tua imagem de
olhos esbugalhados
com o nariz coberto de sangue vivo como hibiscos a sorrir para o sol
a tossir e torcer o lencinho
delicado com
mãos suando frias,
fez-me tremer os lábios
eu, que sequer sei 

teu nome,
vejo-te passar tão magnífica vida
dentro de negros 

olhos 
enormes

poderia ter gritado por ajuda
poderia te acudir
mas a profunda beleza
desses girassóis amarelos dentro de ti
me cala



&&&

A vida é tão pequena
pra ficar fazendo cena
chorar, escrever poemas
lá em casa
pode até faltar feijão
mas ninguém abre
mão de sorrir
porque
a vida é muito curta pra
brigar como um qualquer
amanhã sequer estaremos
em pé.

A vida é tão rara
e é tudo que temos
um amigo um bom vinho
depois de tanto
silêncio
pode até ser sofrida,
já vi piores vidas
torturas da carne
abertura de vísceras

No fim nossos miúdos ao
pó retornarão
sorrindo ou chorando
fazendo cena
ou não...

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