13 outubro 2010

Retratos& Paisagens parte I

aposta nas mangas da camisa no perfume dos homens cheios de calor e cerveja
espera alguém deve agarrá-la fecha os olhos flutua no rio se enrosca nas pernas dele
algas fazem cócegas nas plantas dos pés pisa com cuidado à margem verde. olhos verdes
ou seriam azuis? ou tanto faz?

as meninas descarregam sacolas, os rapazes as malas, colchões, preparavam aparelhos para as fotografias. uma fotografava a outra. Ela desceu de óculos escuros e os lábios rasgados de frio que não sorriam. como se já sentisse saudade ou como se fosse se arrepender. o loiro desagradável que não falava muito com ela no carro acendeu a churrasqueira e duas garotas afetadas foram derreter seus queijos com ele.

pensou em como vinha de uma vez avalanche e até nos deixava triste esssa euforia toda de abrirem garrafas e mais garrafas espumosas de cerveja bem gelada no calor que começava a brotar do céu e da terra e todos muito animados ouvindo rádio
as moças saudáveis e rosadas. de onde vinham elas, que não se continham?

se luzisse apenas uma lua alaranjada maravilhosa e fizesse um calor sedento, tudo bem, mas havia brisa e perfume no ar. o entardecer prometia uma noite esplêndida. a primavera em cada pedaço de terra úmida criava uma completa intimidade e falta de comprometimento entre nós, total. livre de ruídos. só dependia delas serem mais divertidas. estávamos podre de cansados.

as senhoritas com sua selvageia inocente e prática colocaram logo biquinis e fizeram festinhas na água enquanto tinha de me preocupar com, por exemplo, a churrasqueira e a bebida que de vez enquanto atirava com sarcasmo alegre e divertido para cada um. uma lata estupidamente.
gelada. nada poderia ser mais suave. mais sufocante e demilidor. enquanto as outras se deleitavam a luz do sol quente ela se aproximou furtiva de mim e disse: amanhã, vou nadar contigo no rio. e sorriu. sorriso de sol.

ele finalmente se afastou e eu a vi nua no rio. pedaço por pedaço cada patrimônio e construção antiga dos meus complexos adaptativos foram ruindo como alguém que divide um segredo letal por pura idiotice. era óbvio que não me queria mais ali tentando tapá-la inutilmente, comecei a me sentir patético por ele. e resolvi dar o fora.

era simples a atração que sentia: por uns mais outros meros animais se acomodando ao clima. ela me achou antipático mas as mulheres são engraçadas assim mesmo. sorriem e seduzem e se não correspondemos automaticamente nos detestam só para seguida nos desejarem com mais força quase contra sua vontade orgulhosa.

rejeitei suas insinuações tolas e provisórias no carro só para tornar o sabor da nossa brincadeira marota mais gustativo. devia agradecer meu pudor precavido que impediu desagradáveis inferencias entre ela, o namorado e o outro casalzinho que viajava conosco no carro.

escureceu e começou a ventar mais forte. as pernas femininas se movimentavam com alvoroço para o banheiro. banhos, duchas, cremes para pele. perfumes doces e enjoativos. duas, três garotas entravam no banheiro de uma vez impossível não se esfregarem acidentalmente ali., pensei, caminhando sobre o aguaceiro que vazava pela fresta debaixo da porta saiam cheirosas e dengosas. a pele mais sensivel e delicada que o sol lambeu desde as duas da tarde. comiam bebiam e voltavam para seus jogos de carta, para o violão, para o bilhar. algumas conversavam no píer. aos poucos os risos diminuíam e as luzes foram se apagando. o casarão abrigava a todos com esmero e delicadeza os empregados limpavam tudo em silêncio -eram quase invisíveis. tínhamos a devida impressão de que tudo era permitido porque não ficavam entre nós. limpavam e saiam. para entrar, pediam permissão através do sistema de segurança. sabíamos de antemão tudo que acontecia lá fora.

e por causa do vento forte e a noite alta os barcos desamarrados foram conduzidos a um outro lado, inatingível. perdidos para sempre. os donos não se preocuparam muito, era como se tivessem apenas perdido um pedaço de papel com o endereço dos museus de londres relacionados. trabalho cuidadoso, mas sem importância. nada que não pudessem obter de novo.
havia uma quantidade enorme de diferentes tipos de insetos, rãs e sapos. a vida pupulava era difícil chegar até o banheiro lá fora pois tínhamos que atravessar a ventania e a cusparada de besouros na cara. na piscina alguns sapos se deliciavam na água até estendiam o convite, pateando as perninhas num nado sincronizado sorrindo com a boca enorme: venham , humanos, juntem-se a nós, os felizes! venham, mas tragam o copo cheio até derramar de alegria!

os rapazes estabeleceram-se em grupos maiores ou menores apenas uns poucos indivíduos podiam transitar entre os dois mundos, as duas mesas, dois grupos ou mais. eram os intangiveis. mais por incapacidade de acostumar-me com o que quer que seja do que destreza social ia bebericando aqui ou ali sentia uma tontura gostosa e vontade de terminar a noite dormirndo na grama úmida. sem que ninguém viesse velar por mim. mas ela me sacudia, quase sem nenhuma força o rosto pálido já era quase dia.

caminhamos em volta do rio esperando amanhacer ela sentia com as pernas mornas a água invadir seus joelhos ela entrava mais fundo a água subia pelas pernas ela se arrepiou na blusa os olhos tinham um certo brilho metalizado como a casca de um inseto. era um prisma. uma futilidade qualquer.

subimos pelas rochas. acontece que sabíamos do nosso descaso pelo magnetismo que nos mantinha ali calados caminhando descalsos sobre rochas frias. apenas nos preferimos . não precisava se transformar em constrangimento a leveza dos nossos dias juntos ao léu. pior que o transtorno que sentia no estômago quando outro cara se aproximava dela me empedia de comer, às vezes, no entanto, gostava do conversa com o namorado. cara gentil. estúpido. do tipo que não...?

depois de alguns tragos no cigarro dela entupido de fumaça me joguei na rede enquanto me balançava suavemente acordado olhava satisfeito para os macaquinhos na água ninguém parecia saber do nosso passeio ela se aproximou com força apertou meus dedos do pé. uma a um. com as mãos fartas de mim dizendo levanta, Pedro. quase em silêncio. me olhando sorria levanta daí com a cara de sapeca. vontade de agarrá-la, no banheiro. fazer cócegas . puxar seus cabelos decifrar cada pedaço dos seus segredinhos pérfidos. quantos mais? fiquei imóvel. ela chegou mais perto. levanta logo daí, vem nadar! vem! deslizou sua mão por baixo da rede pela minha bermuda eu a puxei pra mim e a deixei assim presa com as pernas pra cima. aos poucos todos foram se dando conta e apreciando a cena e riam , exceto o namorado que me encarava lúgubre e calado do outro lado do pilar da varanda. eu ria com tranquilidade, podia deixá-la assim para sempre. ela gritou solta! apertei-a com mais força só por prazer depois soltei violentamente seu corpo ela flutuou no ar jogou o cabelão para trás e se aprumou. estava muito vermelha.

bebíamos na mesma lata, faz tempo. era boa no bilhar. madrugada adentro o vento tinha dado tregua. as luzes iam se apagando. os risos diminuindo. fez que ia voltou furtiva na ponta dos pés. pra mim. então adentramos o estranho que é a madrugada. dos loucos e patifes insones. fumando aquele cigarro bebendo cerveja morna. jorrando energia um para o outro. apenas uma chama cambaleante de vela acesa. Ni se juntou a nós. puxou uma cadeira.

desta vez, ela estava livre. aqui fora conosco e com os insetos. ela era minha, quase toda.
- tá todo meio que dormindo, riu. vamos fazer uma fogueira.
- nós três! sugeriu ela como uma criança sugere uma aventura. levantou-se como se tivesse acordado de repente de um pesadelo doce, arumou a calça fechou a blusa que me oferecia seus seios e foi procurar lenha. na mata. Ni foi pelo outro lado, mamando um rum. uivando pra lua. ao encalço dela. o namorado dormia. todo mundo quase dormia. só nós três vagávamos sozinhos à procura de gravetos molhados na mata próxima ao rio, entre as pedras completamente excitados e levemente bêbados descemos pela trilha, nos livramos de alguns espinhos, dos fantasmas da casa de veraneio e, finalmente, da grama encharcada. no coração selvagem da mata, achamos um lugar todo nosso. Ni trouxe o violão que arranhava baixinho pra lua. estávamos todos apaixonados ao mesmo tempo.


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