arranho a terra
até meus dedos
abrirem o tempo
não passa
na luz imóvel
escorre em
meu ventre
incognicível
o amor
Como sair daqui agora?
Não, não podes, filha.
quem dera tocar teus
braços quando redobram
os sinos sentir seus
pés em rumo ao outro lado da
possibilidade de
observar como vai
tua vida
Realidade é um estado de espírito
presa na relva
da melancolia a ver
os dedos crescerem como
longas raízes para o fundo da terra
escura e de teus olhos
brotarem ramos
de flores
na gravidade do ar que respiramos juntos,
fazendo piruletas em minhas narinas
para depois passar para as tuas...
presa a meus velhos hábitos na medida que tenho das coisas a extensa solidão
dos objetos
então
te desenho como quem se protege
no meio do dia
quando morre um velho
seu cão lambe
tranqüilo a
poça da rua
e um pássaro
assobia
um grito
de ar
e pousa em meus ombros
olhos de verem de cima o sol
em ondas de calor a filha
oferece
a xícara: teu café, meu pai.
O velho morto, na rede, desta vez, não ronca.
Sou feliz junto de ti, tão doce, tão leve, tão música...
até as árvores
esverdecentes as flores
murcham lentamente
adocicando o ar teus pelos
umedecem minhas pernas
o cheiro
da grama decepada
me avassala
em agonias de vida ou eucaliptos
Mas preciso sair! Sair deste instante áspero. Espero.
Espero...
Revolvendo a terra
em meus dedos de carne viva,
e ainda estou tenra
no exato mesmo Instante enterrada viva no Tempo que devora os próprios filhos.
Enquanto tu dormes...
A luz vem e passa.
O dia
é sempre o mesmo dia apenas
teus cabelos crescem sem que percebas cobrem
tuas pálpebras enchem minha boca
e saem das narinas
uma voz
de pássaro não se pode sair daqui.
Dormirás em mim, até que nossos filhos nasçam
e seus corpos sobrepujem a soberba
de ter deus na barriga um corpo
deitado nu sobre nossas ruínas cobertas
de flores lilases ao alto-claro da montanha
donde se escuta nada além
do rasgo-grito
Rei
del Condor
que pasa
03 abril 2010
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poenma sublime, intenso e verdadeiro.
ResponderExcluirnos remete ao medo da morte e a pequenez da vida humana na terra.