13 novembro 2007
Frutas tropicais
A pinha
Há mais de uma semana doente que sua mãe só fazia sopa e ele nem saia mais pra brincar lá fora. Até da escola sentia falta pegou nos cadernos pra rabiscar e viu que fez a mãe mais alta de todos na casa era sempre frio e pesado feito chumbo seu pai bebia e crescia barba e tinha medo de que ele não saísse mais pra trabalhar quando tinha que buscar pão na padaria ia alegre na lama até o asfalto trazer leite e uma garrafa de pinga.
Sua irmã tinha uns olhos de fome que não cabiam na cara parecia que ia sugar sua mãe inteira. às vezes tinha raiva dela que só sabia chorar leite egoísta e tremer de frio com aqueles enormes olhos pretos. Não demora, Pedro, que vai chover, a mãe disse.
Voltando distraído, pesando pedras em vários tons de terra e observava as folhas recém-nascidas e como seu nariz respirava molhado aquele dia caminhava bobo e feliz.
O chuvisco frio e fraco como sua irmã Pedro parou quando viu pé de pinha. Abarrancou no mais sequinho a sacola de pão e o leite. Foi apanhando cuidadoso só as mais macias.
De repente o tempo fechou as mãos até não agüentar mais encheu a camisa, orgulhoso de levar mais do que podia além de pão, leite e pinga. Primeiro o trovão, alto, como se deus gritasse com ele o raio fulminante pé d´água daqueles que não se escapa. Foi num tiro chovendo o mundo, encharcando a lama, a pinha, o pé, o pão e a pinga Pedro tropeçou e só ia se atolando, as pinhas despencavam na lama do caminho.
Cadê esse menino que não vem? quando conseguiu voltar, trêmulo e encharcado a cinta do pai lhe esperava o pão havia virado papa e a pinga uma garrafa quebrada e vazia. Deixa o menino, a mãe dizia assim ele pega resfriado, vá tomar banho quente, meu filho.
Mas o pai com olhos de diabo mandou Pedro tirar a roupa e nu apanhou até lhe sangrar os gritos da mãe dizendo pára e os olhos da irmã arregalados esgoelando suas últimas forças, sem pão e sem leite. A barriga da família vazia e Pedro de castigo no quarto, igual um bichicho ferido, desejando morte e vingança e depois não desejando nada. O coração batia estraçalhado as costas cheia de feridas que iam amarelando com tempo até secarem cicatrizes na cozinha o cheiro de cebola frita da sopa que Pedro não comeria.
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