13 novembro 2007

Frutas Tropicais



As pintangas

Era feriado gordo, lerdo, cheio de moscas pousando em volta. Janaína, ou Ina, como era conhecida nos becos e bocas bocejou seu bafo de moça no cangote da mulher com quem dormira na noite sabe-se-lá qual, chacoalhou a morena, chupou pitanga com café preto. E foi só pingar no estômago, devolveu até as bagas. Contorcendo-se de nojo na privada, expulsando o café ainda fumegante nas narinas, na boca cheia d’água mole e quente.

A outra acordou meio o-que-é-que-eu-tô-fazendo-aqui? e foi encontrando suas roupas, uma saia lilás e duas pulseiras, a blusa, onde é que botei minha blusa? Janaína disse pra ela dar o fora bem rapidinho, bem rápido, que ia é botar fogo naquele cabelo falso de piranha, cheio de alisante e secador. Quando a outra se mandou, sem saber porque, começou a chorar. Passou logo, foi retocar o rímel.

Janaína não tinha fome nem o que comer, então ia cheirar mais um pouco. Geladeira. Iogurte estragado, pitangas velhas e a garrafa d’água vazia toda embaçada de frio por fora. Pensou em sair, dava sonolência e um desânimo tão grande que devia mesmo ter quebrado a cara da outra, algum móvel, um vaso, mas estavam todos espatifados cacos no chão. Cheirou mais um pouquinho e, claro, Babetty chegou no mesmo instante, entrando sem bater. Sentiu o cheiro do veneno, veado? veio voando! Loura tingidíssima, da rua, da vida, super-nem-aí-ó-que-te-mato. Ótima. Escancarou os dentes amarelos. Que cara, heim, Ina? Ah, vá te foder.

Faturou ontem não, meu bem? E queria um pouquinho também, adorava um pózinho básico. Foi falando sem parar: meu sonho, Ina, é cuspirem na minha cara e espalhar dez gramas, deixar minha cara branca que nem a tua tá agora, depois passarem a língua, nariz, me lambusarem toda de língua, pó e cuspe. não te disse? achei a sandália que é minha vida! vamos fazer comprinhas, que tu anima, mulher! que cara!

Ina explodiu, entediada. Vá pra puta que te pariu, bicha, cheira teu pó de merda e some com teu cu daqui. E ficou ali pasmada, roendo as unhas, descascando o rosa cintilante delas, enquanto a porta batia desaforada estourando tímpanos. Em seguida, abriu outra vez, a loura ofegante e sorriso rasgado na boca rachada: ah, esqueci, biscate, vim aqui te dizer que tua biba morreu. Foi semana passada, enterraram o diabo e ligaram em casa pra avisar. E a porta bateu forte, desta vez, triunfante.

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