15 julho 2011

trans-tornes

cadeiras craqueadas
malarmè e marmelada
à todas mães de santo
e de todo o espírito

abre-se pisado
agora
tudo que sinto
do amor:

flutua entre o sim
e o jamais
e não torna
nem retornará
embora o procure
nos vãos
nos vasos
sanguíneos
em caminhos
que vão trôpegos
pra além do último gole
na madrugada
fina
morde arranha e cospe
essa saliva
espuma
ciúmes e homícidios em
corpos suando cínicos
ávidos de gozo
e de charutos e
literaturas

e a ti que ensinaram ser santa
rolaste
pedra bruta
livre e
puta
como

uma fruta de
venenosas delícias

teu amor é um fogo azul
da cor do seu corpo nu
que a lua vem lamber
fria
e arder em tua virilha enquanto
minhas orelhas se inclinam
vermelhas
e esfregam-se
nas tuas coxas...

12 julho 2011

Maças Azuis

As imagens na água refletem a cidade;
na cidade, o homem folheia.
No homem, existem praças e ruas;
nas praças, os pássaros.
Nas ruas, as árvores;
nos pássaros, a chuva.
Entre as árvores, os hortelãs;
na chuva, os gatos;
entre os hortelãs, os corações.
Com os gatos, o silêncio;
pelos corações, os jenipapos.
No silêncio, as imagens;
nas imagens, as paisagens.
Entre as paisagens, o homem;
em volta do homem, a cidade.
Ubirathan

11 julho 2011

Pra que se apaixonar agora?

nossos encontros
absolutamente sem obrigações
nem durabilidade
nem discursos doces


apenas momentos áridos
desensaiados
de mãos que se enroscam e bocas caladas
ou úmidas
ou secas

e derepente esses
cacos de vida cravados
no peito rasgam
uma fresta mínima

da qual brota uma flor daninha
e faminta se enraiza
nos músculos
duros do coração
e a razão
crisálida
abre insuspeitas
asas
de borboleta

e voa livre ávida
nas luminicências
lúgubres
da paixão

09 julho 2011

o vento é uma moça a uivar
nas janelas
nos cabelos nos cachos
verdes
das
árvores

e a única coisa que pode te salvar agora
é costurar sua auto-estimação
em seus orifícios vácuos

e com garras de tigre
presas de leão
rasgar em nacos
de carne
a solidão

08 julho 2011

doida varrida

hoje você amanhece
sem a certeza de que haverá vida
nas mesmas ruas cinzas
pelas quais passou
sem notar
que trazia
a paz
cada vez que
respira
um pouco do teu ar
se mistura a atmosfera
do lugar
e tudo que pensa
e pensará as torres com antenas
suspensas captam e já sabem antes mesmo
de você entender

do alto de sua
tirania
o desequilíbrio magnético que a sua pele causa à minha

07 julho 2011

joana francesa


joana sórdida
quando chegar
terás
meio quilo
da minha língua
entre os teus dentes
falando de coisas que não entendes
e sabes muito bem
que nem são paulo era tão
santo assim

quando chegares joana
beberei teu mana
de canudinho
sugarei do teu
seio que é morno
o teu medo
de mostrar
teu corpo bonito de leite
que veio lá da via láctea
vagar na
imensidão dessas estrelas
e iluminar
meu quarto
umidecer de lua a prata da minha
mobília

de mostrar como brilhas
como és bossa
e é só
tu chegares

e pronto
sabes me abrir um fogo
como as bromélias
se abrem
às águas raras do
estio.