27 julho 2012

pequenas unhas de aço finas
em torno da sua
garganta
dentro e fora
das curvas da sua língua
bolas de ranho foram
engolidas
num riso
estranho

o rosto
afogado
não faz barulhos
os sons são muito altos dentro do crânio ecoam gigantescos
e assustadores sussurros e assoares de narizes...
minha cabeça dói, ela diz
que atrás do olho direito se a luz penetra
diretamente em sua pupila
sente sono
sente sede
sente que fede
cada dia mais
um pouco
pútrida...

tão belo seu rosto, seu olhar...
agora sem fôlego e sem cigarros,
prestes a sucumbir às trevas daquelas ruas sem iluminação pública adequada,
uma rajada de vento sopra a oeste trazendo pressentimentos tão obscuros quanto a vastidão de crateras desta via.

entre silenciosos cães esquálidos da madrugada
sua imagem de
olhos esbugalhados
com o nariz coberto de sangue vivo como hibisco a sorrir para o sol
a tossir e torcer o lencinho
delicado com
suas mãos frias
me fez tremer os lábios
eu, que sequer sei seu nome,
vejo passar tão magnífica vida
dentro desses
olhos enormes
poderia gritar
poderia
mas a profunda beleza
desses girassóis amarelos dentro de você
me cala

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