11 julho 2012

Mas e ae, cara, como que cê tá?
Ah, porra, sei lá...
Sei. Gerundiando. 
Isso mesmo. Estudando, trampando. Fazendo os corres da vida. E você?
Eu to enlouquecendo. Ontem mesmo, vi um extra-terrestre. 
Cê tá de sacanagem?
Claro que tô. Mas a pira de enlouquecer é verdadeira. Tipo, medo de sair de casa. Já teve? Então, esse lance de olhar as pessoas me olhando, eu saio a tarde e tomo um suco de laranja. Pra não enlouquecer. Mas eu faço isso porque já estou louco. Tomo o suco e sumo, vou pra casa, ler. Mas ao mesmo tempo sinto falta de alguém.
Sei. 
Sinto falta de mim mesmo. 
E a aquela guria que tu catava?
O lance do extraterrestre, é sério. Nós dois vimos. Tamo junto ainda, por incrível que pareça. 
Ela é gata.
Ela é gata.

Bom, eu vou almoçar. Vai ficar por aí?
Opa, claro que não. Vamos. 

E esse lance dos ETs muararáaa...
Tu ri mas é serião. A Maíra tava saindo do banho...
Do banho? Puta, ela é gata.
Ela é gata.

Mas conta, porra!
Ah, então. Eu tinha saído pra comprar nossa larica vespertina e deixei as chaves na mesa da cozinha, veja bem, na mesa da cozinha, não tranquei porque a gente não tem essas nóias. Só fechei o cadeado. Quando voltei, o portão estava trancado, normal. Mas a chave estava na fechadura e achei estranho porque a Maíra ainda estava no banho, acontece que ela me viu ficar o tempo todo no quarto, até conversou comigo, de dentro do box, o problema, meu amigo, é que fui comprar cigarros, pão, café e queijo. E eu tenho certeza de que estava na padaria e ela tem certeza de que eu estava no quarto, falando com ela enquanto tomava banho. E quando entrei pela porta totalmente estranhando o fato da chave estar na fechadura ela achou que eu tinha saído apenas pra beber um copo d'água. 
Sinistro. 
O mais sinistro é que nenhum dos dois se deu conta disso. Até a hora do jantar.

Boa tarde. 
Boa tarde. Eu quero um executivo, peixe ao invés de bife e água mineral. 
E você senhor?
Um uísque. 
Uísque, velinho?
Sei lá, essa estória me deixou nervoso. 
Me conta, o que rolou na hora da janta?
Bom, comemos nossa larica, jogamos no pc até umas oito da noite, aí ela teve que escrever as piras dela do mestrado no computador, eu continuei jogando. A gente resolveu a noitinha ver um filme, então, eu fui preparar um rango. E ela uma sobremesa e um suco. Aí a porra do lixinho estava cheia e tive que descer pra levar o lixo, coisa que devia ter feito a tarde, mas e a preguiça? Sem contar que eu esqueço e a Maíra fica puta, você sabe como são as mulheres, elas sempre...
Cara, e aí?
Meu, aí eu vi a coisa mais assustadora da minha vida.

Seu uísque, senhor.
Muito obrigado. Um executivo pra mim também, por favor. E uma coca.
Cara, eu desci com as sacolas de lixo pela escada porque, pra variar, nosso elevador estava ocupado. Estava escuro, mas senti alguma coisa passar muito rápido por mim, um vulto. A luz do maldito sensor finalmente acendeu. Não tinha nada. Caralho, eu me caguei de medo. Senti aquele maldito vulto gelado num arrepio ruim percorrendo minha espinha, corri como um pato que levou um tiro no rabo com aquelas sacolas de lixo nas mãos e quando finalmente saí do prédio e olhei pra nossa sacada quase desmaiei de cagaço.
Porra, cara, que porra é essa?
Eu vi, meu amigo, eu vi...Uma sombra gigantesca flutuando no escuro, olhando dentro do meu apartamento e a Maíra sozinha lá. Voltei correndo, subi aquelas escadas nem me lembro como e ela estava apavorada quando cheguei. Disse que sentiu um vento frio sinistro vindo da sacada e quando foi fechar a porta, aí notou que uma enorme cabeça olhava pra ela, uns olhos malignos, ela dizia, um olhar satânico. Ela achou que fossem os medicamentos. Ficou mal, coitada. Está em choque.
E você?
Como pode saber que era um ET?
Era um extraterrestre porque desapareceu numa espécie de explosão surda. Eu vi uma luz se movendo muito rápido. Eu diria que ele se teletransportou.
O que um maldito ET iria querer contigo?
Não sei. Mas você checou os registros da nossa empresa?
Não, o que tem eles?
Você não sabe em que tipo de merda a gente se meteu, não é?
Do que você tá falando a gente vende ar condicionado...
Isso é fachada, bobagem, mentira. Não é possível que não tenha percebido. Olha, cara, esses caras estão construindo ogivas clandestinas. Provavelmente estão envolvidos com terrorismo, andei investigando. Entrei na sala secreta deles...
Você enlouqueceu.
Puxa, esquece. Deixa isso pra lá, essa conversa nunca aconteceu. Ok?
Você está preso.

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