durante uma visita à lápide solene
da poesia, estarrecido, fitei-a esmorecida
como um pinto que murchou durante a transa...
e diante dos olhos moucos dos senhores filósofos
e da alta cúpula da psicologia
todas as meninas escarravam nos barrancos da epistemologia.
Dentro do caixão
encontrei um pedaço de papel de pão
rabiscado com uns versinhos sobre o último homem que amou
uma prostituta.
Sobre a primeira-dama bebendo seu café gelado em uma tarde quente
de paris, enquanto seus lábios de verniz
degustavam finíssimo cigarro.
No outro verso do papel, uma história de amor entre um bardo
e uma rapariga das montanhas.
A moça, mui bela e prometida em casamento,
foi certa feita banhar-se nua no rio e ao vento.
Ao que a viu, divina beleza, um bardo andarilho lhe saudou a boa saúde com singelos versos musicais.
A rapariga cuja cona formigava bolhinhas de desejo,
largou-se logo a um beijo e se enamoraram.
Assim que despejou em seus doces lábios o seu jato viril, partiu o bardo para a...
Deixando a moça com saudades, despediu-se
seco, sem amenidades ou versinhos de adeus.
Aos seus, disse a donzela que se esquecera da hora, porém,
a toda aurora buscava seu corpo nu o rio do vilarejo
para que, quem sabe, alguém passasse em sua vida
e lhe deixasse um inesquecível beijo.
Mas se quisesse de fato partir de sua pequena armadilha,
teria que com suas próprias asas feridas,
de cotidiano e medo,
voar para longe dali.
Por fim, vestida com a mortalha púrpura da poesia em sua jazida de aristocrata falido.
Um poema que não é lido, é um poema que jamais nasceu.
E sua vida toda esperou o poema, qual donzela ingênua,
que lhe penetrassem olhos curiosos,
mal sabia a poesia que, hoje em dia,
as mídias frias sugam todas as energias
e aos homens só interessam as coisas fáceis
-e as leituras digestivas.
Sua poesia antiga, em reversos e enigmas, nada diz aos rapazes que já nasceram numa astronave.
Depositei, pois, uma flor solete na lápide da poesia.
Sua jornada é finda, mas tudo que morre se dissemina no vento
e contamina a luz solar que respiramos;
lembro-me do epitáfio que dizia: "saúdo-te, oh espírito divino da poesia, que mesmo ido terá pelos loucos sua nobre memória exaltada".
Na grama onde cresceram pequenas flores crespas
a poesia me lembra que o amor está em toda parte
e à parte de honrarias da sociedade.
pode ser baixa, vulgar e sublime -mas
jamais motivo de vexa.
O amor não se curvará diante do seu argumento mesquinho.
O amor, apesar de afirmares o contrário, não abaixará seus olhos tampouco se curvará diante do seu desejo pequeno.
Se fui eu quem sofri primeiro, você sofrerá mais e -por inteiro -
amargará sua paga em solidão reflexiva.
E nós passaremos como formigas por toda essa existência vasta
de matéria escura. Mas o amor,
que não se curva, nasceu em mim e
jaz, em ti, letra morta.
04 março 2012
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