06 junho 2011

Comércio

queria mais
um café de pressa
expresso
pálido e espumante
um brado retumbante
na fórmica
da tabacaria

uma mulher sonolenta
de bolsas frouxas
sob os olhos
me espia
me espinha
com seus olhos molinhos
de inveja e caspa

...

folheia páginas
antigas do jornal
na porta
da tabacaria
a tarde se adivinha
na sonolência de um gato...

solidariedade atéia

conheci uma moça que não cria
em paisagem

de passagem ela me disse que
viajar era seu desatino

ofereceu-me uma maçã tão grata
lhe estendi a última colcha
de retalho
que restou
da ventania
publicar desenhos
como quem expõe um sonho
tímido
íntimo
e

estapafúrdio
como comer com dedos sujos
os picles do big mac

raul e raquel

quando
abrirem os girassóis do seu bairro
raul voltará com um ramalhete
de desculpas
enquanto

a toalha úmida no banheiro
guardará o seu cheiro

e raquel percorrerá com os olhos tristes
todos os acessórios
espalhados
na pia branca
o espelho
do banheiro
a gota que
insistente
pinga

...