02 agosto 2010

divórcio consensual

os primeiros dias foram vítreos passando de flash em flash a tv. mandibulas abertas mastigando macadâmias até acabarem. comprar mais? cigarros. sentiu falta até das brigas.

não compreendia o sumiço repentino dos guardanapos limpos, brancos e dobrados na gavetinha do armário que ele nunca consertou.

acordava cedo demais ou tarde, perdido. acabou apagendo-se à mobília para não ficar louco e quando a separção foi definitiva juntou forças como quem precisa se livrar de um vício. foi ficando duro, resistente, imune à comentários sentimentalóides que ele mesmo fazia roendo as unhas um desespero de velhice solitária eterna antecipada.

até que um dia ela ligou.ligou. o telefone por si só não tocava. pedindo emprestado as panelas. sei que não cozinha. e foi presente da minha cunhada. tossiu. pensava rápido. desculpa. é que minha namorada usa, entende? dois meses. namorada? é uma amiga, vem aqui às vezes, quando.

tinha horror da idéia de ser traída em sua caminha. achava sujo. até que ela mesma fez o serviço, na caminha.


os corpos mal acostumados a presença um do outro causava insônia. sentia frio ao mesmo tempo
procurava por uma vida outra como se fosse impossível pedir perdão.

roloando na cama ampla e vazia passou perfume pegou o telefone mas só queria ligar pra ela, de novo ela ela ela...
ligação cara cheia de juras compostas de mora e multa recisória.

ela às vezesera tão nítida
mente
egoísta

não se falaram nunca mais houve um amor em vidro tão bonito assim jogado fora.

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