29 março 2010

quando vou à padaria

o passo em direção a.
não volta.

jamais
em meia volta
as pernas percorrem
a rua clara como quando amanhece uma luz de poste apagado
transpira vapores
frios em bocas de lobo
meus óculos usados
tremem
ao topar com o drama
da padaria fechada
ou de supor o trevo em círculos
como cobras que comem o próprio rabo

eu-sol, lunática,
rogo à padaria
copos deformados
e saquinhos de leite
que se estendem pelo hábito de manter
os olhos bem
fechados
engolindo
salivas aguçadas
pela menina de cabelos curtos
e sua blusa amassada
de farinha
espero
triste e ocupada
a beber o orvalho
da madrugada
que a porta da padaria
abra

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