21 novembro 2007

Calabouço da esperança

Abro a cortina dos olhos sólidas pestanas de luz do mundo invisível surgem cores e sobretons de matéria de que já não sou feito do que era, antes, encho minha estante de apêndices ainda mais solitários e durmo sobre as certezas do travesseiro que se acumulam nos criados-mudos. criado-mudo com livros.

Pesada lápide dos meus cúmulos: não importa estar desperto ou infeliz não há diferença alguma nas sensações que filtro e invento para me tornar alguém mais parecido comigo
mesmo tendo de retomar expressões fixas e, doravante, bonitas:
assombra não ser arte nem cru só uma inocência amarela brilhando na janela dos outros apartamentos o silêncio geral do domingo.

A água escorre fria sobre o peixe na bacia. o sol alcança as primeiras flores lá fora em contraste com as sombras nas paredes igualmente opacas formando geometrias possíveis sombras de gatos que se movem sorrateiros.

a água escorre pelo desenho dos seus lábios. é da cor do invisível.

Posso me justificar, poderia fazer isso a vida toda. Seria apenas um detalhe sujo na manga da camisa ou um grão de poeira no escuro, inclusive, esqueço recados sem aquele amadorismo pomposo de lágrimas contidas.
Apenas triste e inadequado mas não acuso objeto algum ou ser vivo algum da angustia pontiangústica de existir com todas as forças cegas da natureza, da madrugada, ou seja, ela esvoaçando em mim, flor de cereja, de lembrança em lembrança a grandiloqüência patética dos sabonetes de argila ou o áspero dos uniformes militares lavados à máquina, por donas de casa que não verão seus filhos retornarem e talvez no asfalto preto de uma noite qualquer vislumbre o seu rosto e seu cheiro brilhando na chuva em gotas alaranjadas de luz.

Recuso-me entender. Sonho dez vezes ao dia e poderia saborear os detalhes mínimos se ao menos dormisse, cubro-me de nuanças delicadas que se desintegram ao primeiro toque límpido de consciência fracionada assim, como a vida, sonho nas superfícies instáveis dos prazeres rápidos prazeres completamente expressos pelo clown depressivo e egoísta que sou. a forjar seus pequenos frascos de encantar pessoas como sabem fabricar pós mágicos, as fadas horrendas do noir...

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