03 junho 2012

Da Avareza

Se não te posso comprar
oh, donzela,
teus tão sonhados vestidos
ou mesmo
este formoso par de brincos
que com olhos de gula cobiças
peço que sejas honesta
e te contentes
com meus
braços fortes
com os meus

sinceros
sorrisos...

tome este anel
aceite o meu pedido
é de ouro folhado
que tomei emprestado
de um grande amigo
para vir
de joelhos
dizer que me sinto
tocado e ungido ao
mirar teus olhos
compridos

peço que tua alma
se aqueça com meus esmeros
posto que peles, jóias e terrenos

são desejos de mulheres frívolas...
ao meu lado nada te faltará, terás,
minha dama,
tudo que te for necessário:
um terço e um escapulário
para que tuas preces
traga-te comida e vestes
quando eu não as puder
comprar...
bem sabes que toda a minha riqueza
logo se findaria se tolo
me pusesse condoído
pelas lamúrias de compra
de um rostinho
bonito...

Da Ira

A quem o fogo da fúria queima?
o corpo que magoado treme
a boca que ressentida espreme
um beijo
áspero
entre lábios
comprimidos

da garganta escorre
ácido,
ardido e letal veneno
mata aos poucos
repousa no estômago
fervilhando revanches
ressecando as mucosas dos olhos

e num tremor de arrependimento
sopram frias cinzas espalhando-se
desvanecidas
pelo montículo de sentimento
pelas chagas
pelos móveis quebrados
pelos cacos de vida
pelo homem que se vai
cabisbaixo
levando seus pecados consigo...