28 fevereiro 2010

primavera

A pequena concha de caracol que sou
recebo água
de chuva
e não há um dono para minha concha
solitária enrolada em si mesma
porque
o bicho de dentro dela
morreu

a lesma viva arrastava meu abrigo sobre as costas
o terrível peso de ser
eu interpelada por meninos
e me atiraram sal
para me verem agonizar
ao sol morrer lenta
líquida
esparramada pela rua
os minúsculos gritos
de agonia
não chegam perto
dos corações humanos

na rua
depois da chuva
pequena concha solitária
proliferam larvas
crescem
dentro...

a música da terra é silêncio
espesso
seus joelhos cortados
sangram bolhas de sol
estouram nos olhos os meninos se dissolvem
ao vento suas peles jovens, vermelhas
rasgam a carne
num crescimento descontínuo
de suas
próprias
faces

não vão jamais além
do carro contendo gente
dentes postiços
a roda mecânica
estraçalha a concha
e em pedaços
aos poucos
me misturo
ao pó
na rua
recolho
equilibrada sobressaltos
assaltantes
decepam
pessoas
e seus pedaços espalham
odor de
Jasmim