07 outubro 2016

Eloísa

Eloísa era ruiva, às vezes,
um pouco tímida.
Com 15 anos fez uma cirurgia rinoplástica para se sentir mais bonita.

Vamos assim chamá-la: púrpura chama,
 nem ela própria se compreendia.

Minha vida e a de Eloísa,
no entanto,
estavam entrelaçadas
em uma linha intrépida
e sinistra.

Pergunta-me seminua agora Eloísa: 
Quem ousa estar acordado tão tarde, sentindo-se algo entre importante
e invisível 
majestade?

Eu não tenho sono.
Eloísa sonha acordada.

Sua boca é de capim limão
e sua pele tem
cheiro de terra vermelha molhada
o cabelo comprido cor de tijolos
açoita-me com um silvo de passarinho
quando a gente 
pega a estrada


 Ela passa
por mim
vai até a cozinha volta sorrindo
segurando com os dedos comprimidos a colher de brigadeiro e os lambendo.
com naturalidade

Eloísa é silêncio entre seus livros
música muito alta
gritos enraivecidos
chora comigo 
e fazemos enormes poças onde nos admiramos
narcisos





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