06 novembro 2015

ainda sou o que perdi

meu tempo, 
meus óculos,
meus horários
amizades,
os cartões do banco
o lugar da fila
o telefone
daquele moço...
tal qual carrara que se esculpe
retirando-se o excesso
cai de mim todo um bloco de desculpas esfarrapadas
desabam
sacolas de pão e frutas
rolam pela rua
enquanto fico me perguntando
se realmente
o moço da padaria
me deu
o troco
errado...

Tânia e o espelho

Tânia mira o espelho
espreita os olhos
passa lápis de cor preta
em volta dos cílios
uma massa de rímel
deixa seus lábios mais vermelhos
e as bochechas coradas, batom, blush
é uma sombra com brilho...
Tânia disfarça as espinhas
com pós e máscaras
e quando está quase perfeita:
Tânia deita de porre (na cama)
e dorme.
E o espelho fica sem entender nada.

conto erótico #1


Sandra andava muito ocupada com as crianças e há alguns dias não penteava mesmo os cabelos e os seus pelos cresciam em seu corpo lenta e livremente, de fato. Passou a mão em seu queixo e o sentiu sujo de papinha de neném seca, desceu seus dedos pelo pescoço, de olhos fechados, o calor da sala misturado à bagunça da casa fez suas pernas ferverem, apertou com força os próprios seios túrgidos de leite, ainda, enfiou dois dedos desvencilhando-se do vestido do pano úmido da calcinha. O bebê chorava baixinho de fome no berço, enquanto ela termina, arrumou os cabelos, lavou o rosto. Olhou-se no espelho e sorriu, calma, com uma tranquilidade mansa e um amor por sua vida inconfundíveis.

Planos para o fim do mundo


amor io-iô
dedo dentro do maiô amarelo
que a onda do mar
salgue leve
o sal da pele
salte e espere cheiro de água de peixe
cheio de água de coco na boca
balanço de rede
debaixo da sombra e acima da sombra,
o Sol

A foice da fome

Em São Félix do Xingu (PA) trombei com um urubu
o abutre me disse
que urubu não come alpiste 
isso muito me intrigou
o que come pássaro tão nobre, então?
como o teu nome
teu endereço
teu telefone...